Papa apela à paz e ao combate à corrupção na missa campal em Maputo

Francisco terminou uma visita de três dias ao país. Nas suas intervenções acentuou a necessidade de reconciliação e pacificação. “Nenhum país tem futuro se o motor que cobre as diferenças é a vingança ou o ódio”.

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O Papa celebrou missa em Maputo MIKE HUTCHINGS/Reuters
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O Papa Francisco fez esta sexta-feira um apelo para que se combata a corrupção em Moçambique, onde, disse, há muitas riquezas mas grande parte da população vive na pobreza. “Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais (...) mas uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza”, disse na missa campal que celebrou no Estádio Nacional do Zimpeto, em Maputo.

A utilização dos recursos naturais de Moçambique a favor de toda a população, por um lado, e o combate à corrupção e desigualdades, por outro, são temas que têm motivado debate aceso na sociedade moçambicana nos últimos anos. O país assiste desde 2016 à investigação ao caso das dívidas ocultas no valor de 2,2 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) com várias figuras ligadas ao Estado, ex-banqueiros e negociantes estrangeiros detidos por suspeita de fraude, lavagem de dinheiro, corrupção e outros crimes.

As dívidas foram suportadas por garantias soberanas entre 2013 e 2014, mas o dinheiro nunca chegou às empresas estatais a que se destinavam, afundando a economia nacional.

Moçambique deve tornar-se na próxima década num dos dez principais fornecedores de gás natural liquefeito do mundo, criando riqueza que deverá catapultar o crescimento económico do país e com capacidade para reduzir substancialmente a pobreza - que ainda afecta cerca de metade dos 28 milhões de habitantes.

"É muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa”, sublinhou Francisco, fazendo um voto: “Que não seja assim entre vós”.

O Papa pediu também que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência. “Muitos de vós podem ainda contar em primeira mão histórias de violência e discórdia, uns na sua casa, outros de conhecidos” e “outros ainda pelo temor que feridas do passado se repitam e tentem apagar o caminho de paz já percorrido, como em Cabo Delgado”, referiu.

A região a Norte de Moçambique enfrenta desde há três anos ataques a aldeias feitos por grupos armados dos quais pouco se conhece, além da suspeita de pertencerem ao islamismo radical - ataques que já provocaram pelo menos 200 mortos e milhares de deslocados.

Face à situação no Norte e uma guerra civil que durou mais de uma década, deixando feridas e clivagens que perduram, o Papa deixou uma mensagem para Moçambique, no dia em que se celebra um mês da assinatura do terceiro acordo de paz entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

“Não se pode pensar o futuro, construir uma nação, numa sociedade sustentada na violência”, destacou, sublinhando que é preciso dizer não à ideia de “olho por olho, dente por dente”. “Nenhum país tem futuro se o motor que cobre as diferenças é a vingança ou o ódio. Tendes direito à paz”, acrescentou num estádio lotado, apesar da chuva.

A homília foi um dos pontos centrais da missa campal com que o Papa Francisco encerrou a visita de três dias a Moçambique, continuando o seu périplo em Madagáscar, para onde parte esta sexta-feira. Na segunda-feira viaja para as ilhas Maurícias.

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