Catarina Martins recusa “o caminho da intriga” e quer falar de propostas

A coordenadora do Bloco de Esquerda discursou no encerramento do Fórum Socialismo 2019 e apresentou o investimento e o trabalho como pilares para o próximo governo.

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Sem citar nomes, Catarina Martins garantiu que o Bloco de Esquerda não se irá "dispersar em jogos de provocações" LUSA/MARIA JOÃO GALA

Três dias, 750 pessoas, 92 oradores e 52 debates. Foram estes os números apresentados este domingo por Catarina Martins no discurso de encerramento do Fórum Socialismo, que marcou a rentrée do Bloco de Esquerda. No Porto, morada do evento, a líder bloquista elogiou o Fórum, “o maior da história do Bloco de Esquerda” e destacou duas das prioridade para a próxima legislatura: o trabalho e o investimento. Lembrando que “a responsabilidade da campanha eleitoral é apresentar propostas para o país”, Catarina Martins recusou “o caminho da intriga” e optou pelo “caminho das propostas”.

Há quem tente que esta campanha seja sobre tudo, menos sobre o que conta”, resumiu a coordenadora do Bloco de Esquerda, sem citar nomes, mas no que pareceu ser um recado ao primeiro-ministro. “Nós estamos aqui para apresentar propostas”, assegurou, enquanto levantava o programa eleitoral do Bloco de Esquerda na mão direita. Catarina Martins focou, por isso, o seu discurso no que considera serem “os dois grandes desafios para o próximo governo”, que será escolhido a 6 de Outubro: “O trabalho e o investimento”. “O trabalho é o que puxa pelo país, é o que puxa pelo salário, pelos direitos a fazer justiça e a ter um caminho mais digno”, começou. “Por outro lado, é preciso investimento. Falta investimento na Saúde, na Educação, na Justiça e numa economia mais forte que pode  responder à emergência climática, ao mesmo tempo que responde pelas pessoas e pelo trabalho”, vincou, antes de avançar para a resposta concreta do Bloco de Esquerda: o programa para a reabilitação urbana.

No seu programa eleitoral, os bloquistas defendem a reabilitação de 100 mil casas, que sejam posteriormente arrendadas por valores entre os 150 euros e 500 euros mensais. Para Catarina Martins, esta é uma medida que “cria emprego, dinamiza a economia, liberta o salário (porque o que se está a pagar na renda come qualquer subida de pensão ou salário) e regula o mercado imobiliário”. “É o investimento mais seguro que se pode fazer, ao contrário do que acontece com o sistema financeiro, onde o Estado já colocou 17 mil milhões que nunca ninguém pagou”, vincou a líder do Bloco. 

Para Catarina Martins, este é um “investimento com critério e não ao sabor dos interesses dos grandes grupos económicos que gostam de viver das rendas do Estado” e é também um “investimento com retorno, como provam as experiências de programas semelhantes feitos há muitas décadas em Portugal”. “As pessoas em Portugal pagam a sua renda da sua casa, não fazem como Ricardo Salgado Berardo a dizer que não têm dívidas”, sublinhou.

Ao mesmo tempo, acrescentou a líder bloquista, “é também um programa que responde aos desafios da emergência climática porque tem critérios de eficiência energética”. A referência à emergência climática no encerramento mostra o clima como uma das bandeiras do Bloco para estas legislativas. Foi, aliás, justamente com o clima que o encontro arrancou, com o discurso “verde” da eurodeputada bloquista Marisa Matias, que não poupou críticas à gestão da crise da Amazónia.

"Quem diria que seria possível em Portugal baixar-se pela primeira vez as propinas da universidade no ano lectivo que vai agora começar?”, disse ainda Catarina, enumerando algumas das medidas da legislatura que tiveram intervenção do Bloco, como “a de quem está a cuidar dos seus e não tinha sequer um nome e hoje tem: estatuto do cuidador informal”, e a Lei de Bases da Saúde, aprovada após “um caminho tão difícil”. 

​Sem citar o nome do PS ou do primeiro-ministro, Catarina Martins deixou alguns recados: “Se houve quem teve dúvidas ou quem fez ziguezagues não foi seguramente o BE que foi sempre a voz da solução, do compromisso, do caminho por fazer”.

Antes de Catarina Martins, subiu também ao palco o deputado José Soeiro, que centrou a sua intervenção nas propostas dos bloquistas para a área do trabalho. O deputado falou também na proposta apresentada pelo primeiro-ministro e líder do PS de acabar com o corte de 5% no vencimento dos políticos, António Costa que apresentou como a última reposição de cortes impostos pela austeridade. “Como é possível que [António Costa] não se lembre que houve muitos cortes no vencimento durante o tempo de austeridade que ficaram por devolver? O corte dos políticos está longe de ser o único a eliminar”, vincou o deputado.

Os três dias que juntaram bloquistas no Porto foram também marcados pela discussão sobre a emergência climática, a gestão do Serviço Nacional de Saúde e as rendas da energia, mas também pela discussão em torno da identidade do Bloco de Esquerda.

No sábado, o fundador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, criticou os “mecanismos de contaminação” que “criam um senso comum explorando preconceitos, fomentando o ódio”. Já o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, vincou que o partido “não perdeu o seu horizonte de transformação, não perdeu a sua identidade, não perdeu o seu programa político”. Não obstante, da mesma forma, o Bloco não perdeu a capacidade de “fazer acordos ou alianças e de juntar forças para determinados objectivos” em defesa da democracia, argumentou.

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