Meia-Nau: Neste restaurante de Matosinhos há boa grelha e a sardinha pinga no pão

Na grande democracia do peixe na brasa, este restaurante de Matosinhos distingue-se pelo estilo mais moderno e afidalgado. Da acomodação à apresentação e serviço.

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Num contexto onde os restaurantes se contam às centenas e a oferta se concentra em peixe na brasa, diferenciação e novidade nem sempre será o mas fácil. Poderia, isso sim, depender da qualidade da grelha ou do assador, mas também tudo ficou ainda mais igualado quando a Câmara de Matosinhos avançou com o arranjo das ruas e impôs um modelo comum a todos os restaurantes da zona da lota, pondo assim fim ao caos dos assadores espalhados por ruas e passeios.

À ordem urbanística juntou-se a generalizada melhoria dos assadores, uma espécie de democratização no assar do peixe fresco que a todos beneficia. Se há bom peixe e a procura é muita, então que todos o possam saborear da melhor forma possível. Uma máxima que reina em Matosinhos e que, pelo que se vê, tem cada vez mais clientela.

É nesta grande democracia do peixe na brasa das ruas de Matosinhos que o restaurante Meia-Nau é um dos figurões mais recentes. Espaço conquistado, já este ano, a uma velha oficina automóvel que por ali ainda respirava o aroma a sal e peixe assado, reconvertido com cuidado e gosto.

À estética moderna e arejada associa-se o sentido prático e acolhedor, e também um serviço um pouco mais cuidado e atento. Se em linguagem náutica a meia-nau é a mediana longitudinal da embarcação, este restaurante será também o meio-termo entre o serviço atento profissional e a informalidade (balbúrdia em muitos casos) reinante.

Há um barco agarrado ao tecto, azulejos brancos a revestir as paredes e a luz natural que entra pelas duas laterais beneficiando da localização em esquina. Mesas com toalhetes individuais, cadeiras confortáveis (almofadadas e com apoio de braços) e baixela moderna, num espaço aproveitado ao máximo para poder acomodar umas quatro dezenas de pessoas.

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Distingue-se também pelo funcionamento contínuo – ideal para uma petiscada ao longo da tarde – e o serviço de bebidas que se alarga aos gins, cervejas ou cocktails. A oferta, como todos, assenta nos peixes na brasa, que variam apenas em função daquilo que no dia-a-dia oferece a lota, que, neste caso, está mesmo do outro lado da rua.

Azeitonas negras, afinado paté de atum, fatias de pão de mistura e broa escura acompanham a entrega da carta. Qualidade evidente, logo a marcar distâncias com a indiferença e banalidade.

Às costumeiras amêijoas à Bulhão Pato, camarões, gambas e percebes, as propostas para entradas juntam lulas salteadas, petinga frita, croquetes de camarão, salada de polvo ou mexilhões à Meia-Nau. Também uma sopa de peixe (4€), que se provou com absoluta aprovação. Caldo de peixes espesso, com variedade de carnes e toque picante a espevitar os sabores, encimado por mexilhão ao vapor, tostinha de pão e raspa de ovo.

Aprovadas também as petingas (4€), de tamanho médio, frescas, suculentas e bem fritas em polme de farinha milha. Escorridas, crocantes e também em boa quantidade. Destaque maior para as lulinhas salteadas (6€) – com alho –, igualmente em dose avantajada, suculentas, aroma e sabor marinho, enquanto as amêijoas à Bulhão Pato (16,50€) – rajadas, de boa pinta – se mostraram as menos felizes das escolhas entradeiras. Sem suculência nem consistência, efeito mais que provável de longa congelação. Pena mesmo, porque tinha boa pinta!

O serviço em tachinhos de ferro fundido alarga-se também ao arroz de marisco (2 pessoas/28€), que é um dos chamados “pratos tradicionais”, onde se incluem também polvo à lagareiro (15€), peixe-galo frito com açorda de ovas (45€/kg) e bacalhau à lagareiro (2 pessoas/28€).

Distintiva é ainda a forma como são servidas as sardinhas assadas (0,80€ a unidade), sobre uma tosta de pão. A mostrar que nem só pelo São João é que ela pinga no pão, mas sobretudo a oferecer todo o maravilhoso sabor da sua gordura salgada. Ainda por cima com bom pão de mistura. Delícia mesmo!  

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Dividida entre os que são servidos à dose e ao quilo, a oferta de peixe na brasa propõe também doses de carapau (8,50€), lulas (11€), salmão (9,50€) e peixe-espada (9€). Ao peso, desfilam na vitrina do balcão besugo, dourada, rodovalho, robalo, garoupa, peixe-galo, linguado ou goraz, segundo aquilo que a lota pode oferecer.

Em corte longitudinal, meio robalo (19€) mostrou bem o privilégio que é morar ao pé da lota e ter uma boa grelha. Carnes alvas e húmidas, pele a deslizar sobre a gordura, gelatinas da cabeça e espinhas, tudo a desprender-se de forma gulosa e saborosa.

A carta indica que os acompanhamentos devem ser solicitados à parte, mas na conta final tanto a salada de pimentos assados como as batatas a murro não apareciam. Ou melhor, eram mencionadas mas com custo zero.

Quanto às sobremesas, provou-se o minipudim Abade de Priscos (4,50€), de execução e consistência surpreendentemente boas – mas marcado pelo excesso de caramelo que sobre ele é derramado (e não havia necessidade) –, na companhia de um gelado cítrico que, além da frescura, acaba por funcionar também como oportuno limpa palato. Também o leite-creme parece inspirado na boa receita tradicional, alargando-se a oferta de doces à baba de camelo, nata e bolacha caramelizada, tarte brigadeiro e um fondant de caramelo com gelado.

Nos vinhos é que a oferta não consegue mostrar qualquer diferença ou novidade. Percebe-se a associação privilegiada a uma marca/produtor, mas isso não pode impedir diversidade de estilos e regiões. E principalmente quando peixes e mariscos o pedem.

Na grande democracia do peixe na brasa que é Matosinhos, o estilo mais moderno e arejado do Meia-Nau pode fazer a diferença, sobretudo quando isso representa um acréscimo de cuidado e atenção ao cliente.

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