Benfica-FC Porto: um clássico para medir distâncias

À 3.ª jornada, não faz sentido falar em jogos decisivos. Centro das atenções do fim-de-semana desportivo, o Benfica-FC Porto deste sábado permitirá, no limite, ganhar uma equipa para a época.

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Um bom plantel não se traduz automaticamente numa boa equipa, mas é inegável que dá um contributo importante para lá chegar. É neste espaço entre as duas realidades que se discute o clássico deste final de tarde (19h), entre um Benfica que aproveitou muitas das dinâmicas da época passada e um FC Porto que acelera para reconstruir um “onze” que obedeça às ideias de Sérgio Conceição. À 3.ª jornada da Liga, é descabido falar num jogo decisivo. Este embate será, acima de tudo, relevante para medir distâncias entre candidatos ao título e para se ganhar uma equipa para o grosso da temporada. 

Já se viveram momentos bem mais crispados no futebol português, num passado bem recente. Talvez porque a época acabou de começar ou porque as arbitragens (ainda) não saltaram para a mesa das discussões, o lançamento do clássico de hoje assentou num discurso distendido. Com três pontos a separarem Benfica e FC Porto, o treinador dos “dragões” não se coibiu de olhar para os méritos do rival, pousando a lente sempre sobre o colectivo.

“Quando tem bola, o Benfica é extremamente dinâmico e no ataque tem uma variabilidade interessante de movimentos. Também consegue usar bem a profundidade com pouco espaço. Estamos atentos a isso e também a momentos em que não tem a bola. O Benfica, por vezes, até deixa a iniciativa para contra-atacar com perigo”, descreveu Sérgio Conceição, desvalorizando o momento de forma particular de Rafa, de longe o melhor em campo na última jornada, diante do Belenenses SAD.

Este é um dos dados para avaliar mais logo: até que ponto as equipas quererão assumir e controlar o jogo com bola ou procurarão, em determinados momentos, dar a iniciativa ao adversário para poderem sair em transições ofensivas rápidas? Até porque de ambos os lados é possível acelerar em progressão, com bola, para aproveitar uma eventual janela de desorganização do rival — Rafa é o caso mais evidente no Benfica, Luis Díaz tem mostrado capacidade para o fazer no FC Porto.

E aqui começa a discussão em torno da valia dos elencos. O treinador dos “dragões” não tem dúvidas em considerar o actual como “um dos melhores plantéis do Benfica nos últimos anos”. A grande mais-valia dos “encarnados”, que venderam o passe de João Félix e perderam Jonas, foi a capacidade de manterem o núcleo de jogadores que Bruno Lage conduz desde Janeiro, ao qual acabou por ser acrescentado o espanhol Raul de Tomás. Talvez por isso o técnico das “águias” desvalorize a questão do talento ao seu dispor.

“No ano passado tínhamos [o plantel mais forte], porque acredito que o melhor plantel é o que vence. Se chegarmos ao final e vencermos, concordarei com o Sérgio. Mas é um grande elogio à visão e à mudança que fizemos. Sentimo-nos fortes, mas não nos esquecemos de que, num passado recente, um treinador [Jorge Jesus] optava por jogar com Rodrigo ou Lima e Witsel ou Aimar”, frisou.

Assente no mesmo modelo da época anterior, com algumas nuances na forma como pressiona a saída de bola contrária, este Benfica leva sete golos marcados e zero sofridos no campeonato. Mas isso não quer dizer que não tenha debilidades, como destacou Sérgio Conceição. “Se calhar, os adversários não foram capazes de explorar as fragilidades e os erros que todas as equipas cometem. Não há equipas 100% eficazes durante os 90 minutos”, apontou.

Com Nuno Tavares (por força da lesão de André Almeida) e De Tomás (devido à saída dos dois avançados) como únicas novidades no “onze” face a 2018-19, o Benfica tem vivido muito de dinâmicas já estabelecidas, ao passo que o FC Porto procura uma rápida assimilação do seu modelo por parte dos reforços (Luis Díaz, Nakajima, Uribe) que tentarão fazer esquecer a debandada de Herrera e Brahimi (Pepe e Marcano já trabalharam com o técnico e são os substitutos naturais de Militão e Felipe).

Uma outra contratação, o avançado Zé Luís, deu um passo em frente na luta pela titularidade com o hat-trick apontado ao V. Setúbal, num jogo que serviu para reforçar a visão de um FC Porto forte na reacção à perda, nas bolas paradas e na exploração das costas da última linha. “Eu, às vezes, vejo o Marega a atacar a profundidade entre o central e o lateral e o Zé Luís a pedir em apoio, para jogar”, exemplificou Bruno Lage.

Nuances para observar mais logo, num Estádio da Luz que ultrapassará os 60 mil espectadores para o 171.º jogo entre os dois rivais na Liga.

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