Vuelta 2019 tem mais montanha na estrada e menos “tubarões” no pelotão

A Volta a Espanha 2019 começa neste sábado e a grande novidade é a debandada de boa parte dos principais “tubarões” do pelotão internacional. O percurso traz, no entanto, um aumento da montanha.

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O pelotão na Vuelta 2017 LUSA/JAVIER LIZON

Chris Froome? Não. Egan Bernal? Também não. Thibaut Pinot? Nem pensar. Tom Dumoulin? Continua lesionado. Geraint Thomas? Vai ver de casa. Nibali? Está cansado. A Volta a Espanha 2019 começa neste sábado e a grande novidade é a debandada de boa parte dos principais “tubarões” do pelotão internacional.

Noutros anos, a Vuelta beneficiou de lesões de vários ciclistas no início das temporadas para receber “presentes” inesperados na sua corrida. Em 2019, a última das três “grandes voltas” não teve tanta sorte e os problemas físicos de muitos ciclistas – Froome, Dumoulin, Bardet e Pozzovivo à cabeça – levam a que o pelotão pareça enfraquecido.

Mas há um twist neste cenário: ter menos nomes de topo significa, quase sempre, mais espectáculo na estrada, quanto mais não seja pela inexistência de um favorito claro.

Apesar desse equilíbrio, a Jumbo-Visma – que contratou Dumoulin nesta semana –, a Movistar e a Astana preparam-se para serem os “alvos a abater” e todas com lideranças bicéfalas: os primeiros levam Primoz Roglic e Steven Kruijswijk (Bennett e Gesink surgem como bons suportes), enquanto os espanhóis têm Nairo Quintana e Richard Carapaz (Valverde também lá estará) e os cazaques com Miguel Ángel López e Fuglsang (mais os irmãos Izaguirre).

Roglic e Carapaz são, em teoria, os principais favoritos para esta Vuelta, mas a forma física de ambos é difícil de aferir, já que pouco correram desde o Giro. Para Roglic, o contra-relógio colectivo da primeira etapa pode dar, logo à partida, alguma vantagem ao esloveno nos primeiros dias.

Miguel Ángel López, trepador da Astana que nunca recusa animar a corrida, surge numa segunda linha, a par de três ciclistas com desgaste físico recente: Quintana tem, nesta prova, a possibilidade de “salvar” a temporada, depois do falhanço tremendo no Tour, Kruijswijk vem de um desgastante pódio em França e Fuglsang, também presente no Tour, é outro nome importante, mas “grande volta” e “Fuglsang” nunca combinaram bem: os constantes falhanços no dinamarquês nas principais provas reduzem, ano após ano, o capital de favoritismo atribuído ao colega de López na Astana.

Sprinters ficam “em casa”

O pelotão está diferente, para pior, mas o percurso espanhol mantém a imagem de marca, com oito “tubarões” à espera dos ciclistas: os finais em alto. Serão oito etapas a terminar em subida, quatro delas nos primeiros nove dias, e mais 13 montanhas do que em 2018. Além disso, em Andorra, na etapa 9, haverá a estreia na Vuelta de um famoso “sterrato”, troço de terra batida que tanta animação costuma dar a algumas clássicas da Primavera.

Tudo isto poderá indicar que, a meio da corrida, teremos um top-10 bastante próximo do lote que terminará a Vuelta nessa elite. Por outro lado, um início tão forte em montanha pode influir numa corrida mais “morna”, com as equipas a “especularem” nos primeiros dias de subidas, guardando-se para a semana final.

Com oito finais em alto e dois contra-relógios, esta corrida será, por um lado, indicada para os trepadores mais fortes e, por outro, pouco recomendável para sprinters, cujas hipóteses de brilhar deverão ficar-se por cinco ou seis etapas. E Fernando Gaviria será, nas casas de apostas, quem menos dinheiro renderá, tal é a superioridade teórica do colombiano.

Por fim, haverá um lote alargado de portugueses a correr na prova espanhola. Nélson Oliveira terá pouca liberdade na Movistar, enquanto Rúben Guerreiro, na Katusha, tem um papel algo indefinido e dependente dos planos da equipa para o líder Daniel Navarro. Deverá, ainda assim, ter liberdade para correr, já que todos os Katusha estão “à caça” de novos contratos para 2020.

Já a equipas Burgos-BH e Caja-Rural deverão tentar estar em fuga quase todos os dias e os portugueses Nuno Bico e Ricardo Vilela, na primeira, e Domingos Gonçalves, na segunda, poderão ser, por vezes, foco da transmissão televisiva durante vários quilómetros.

Nomes a seguir:

Tao Geoghegan Hart – na ausência dos “tubarões”, será o líder da Ineos em Espanha. O jovem britânico, de 24 anos, vem de um quinto lugar na Volta à Polónia e, sendo prematuro apontá-lo ao triunfo na Vuelta, não será absurdo apontá-lo a um top-10 sólido ou até a um pódio.

Thomas de Gendt – o belga, especialista em fugas, é sempre um nome a seguir. Ter de Gendt envolvido em fugas é tão certo como o nascer do sol e o ciclista da Lotto, que já esteve no Giro e no Tour, já soma dois triunfos na prova espanhola.

Tadej Pogacar – o ciclista da Emirates já soma alguns bons resultados em 2019, mas tem pautado pela inconsistência. Aos 20 anos, o esloveno tem sido “lançado às feras”, mas, a espaços, tem correspondido. Pode surpreender.

Fabio Jakobsen – se alguém pode dar luta a Gaviria nos sprints é este dinamarquês da Quick-Step. Foi batido duas vezes pelo colombiano na recente Volta à Polónia, mas a Quick-Step é das melhores equipas a preparar terreno para os seus sprinters. Jakobsen estará, certamente, na luta pelas cinco ou seis etapas destinadas aos homens mais rápidos, até pela motivação de ter ganho, há pouco tempo, os campeonatos nacionais holandeses.

Pierre-Roger Latour – o ainda jovem francês, de 25 anos, tem tido uma temporada modesta, depois de um início de carreira promissor – venceu etapas na Vuelta e no Tour e só foi batido por Pinot no Dauphiné 2018. Mostrou-se “solto” na Volta a Polónia e poderá entrar na luta pelo top-10 e animar as etapas.

Philippe Gilbert – com o orgulho ferido depois de ter sido deixado fora do Tour – o próprio assumiu-o –, o experiente belga tem, nesta Vuelta, algumas etapas com finais perfeitos para um sprint em grupos reduzidos ou um ataque explosivo numa pequena subida. Há, portanto, terreno para Gilbert brilhar.

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