Salvini derrotado e começa a formar-se nova aliança política

O vice-primeiro-ministro italiano queria que a moção de desconfiança fosse votada esta quarta-feira, mas viu-se em minoria perante uma frente do 5 Estrelas, Partido Democrático e Livres e Iguais. Giuseppe Conte vai à Câmara dos Deputados a 20 de Agosto

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O Força Itália, de Berlusconi, recusou integrar uma lista única com a Liga CLAUDIO PERI/LUSA

Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e líder da Liga, abandonou esta terça-feira o Senado italiano vergado ao peso de uma derrota. Os senadores do Partido Democrático (PD) e do Movimento 5 Estrelas aliaram-se e rejeitaram que a moção de desconfiança de Salvini fosse votada esta quarta-feira. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, irá agora a 20 de Agosto à Câmara dos Deputados explicar a crise política. E, no Senado, novas alianças começam a ganhar forma.

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Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e líder da Liga, abandonou esta terça-feira o Senado italiano vergado ao peso de uma derrota. Os senadores do Partido Democrático (PD) e do Movimento 5 Estrelas aliaram-se e rejeitaram que a moção de desconfiança de Salvini fosse votada esta quarta-feira. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, irá agora a 20 de Agosto à Câmara dos Deputados explicar a crise política. E, no Senado, novas alianças começam a ganhar forma.

A derrota de Salvini estava quase garantida e uma nova geometria parlamentar parece desenhar-se em Itália. De um lado, Liga, Força Itália e Irmãos de Itália e, do outro, 5 Estrelas (que lidera actualmente o Governo), PD  e Livres e Iguais. Mesmo em minoria, Salvini não deixou de fincar o pé e desafiar as restantes bancadas: “Demitir os ministros? Não, nunca. Agora eu falo e vocês ouvem”, respondeu quando questionado sobre porque mantêm os seus ministros no Governo e não cumpre o que ameaçou.

Se o vice-primeiro-ministro demitir os seus ministros, o Governo cai automaticamente e a palavra é dada ao Presidente, Sergio Mattarella, que pode convocar eleições ou empossar um novo governo, dando primazia ao partido mais votado, o 5 Estrelas. Este, por sua vez, poderia coligar-se com o PD, deixando a Liga à margem.

Numa tentativa de dividir os seus opositores, Salvini desafiou o 5 Estrelas a apoiá-lo na votação em troca de votar a favor da calendarização da emenda constitucional, para reduzir em 345 lugares as duas câmaras do Parlamento italiano, que perfazem actualmente 945 –​ Senado (315) e Câmara de Deputados (630). Sem sucesso, mas Luigi Di Maio, líder do 5 Estrelas, mostrou-se disponível para votar a emenda constitucional se Salvini recuar na moção de desconfiança a Conte – a proposta de redução dos deputados é bandeira dos dois partidos.

Salvini quer disputar eleições antecipadas o mais rapidamente possível, para cavalgar o momento de liderança nas sondagens. Numa sondagem do canal La7, divulgada na segunda-feira, a Liga continua na liderança com 36%, permitindo-lhe formar governo com maioria absoluta coligada com o Irmãos de Itália (7,1%) e a Força Itália (6%). O PD surge em segundo com 23,4% e o 5 Estrelas em terceiro (18,2%).

Além da derrota no Senado, Salvini sofreu outro contratempo: o Força Itália recusa integrar uma lista única com a Liga. O partido de Silvio Berlusconi, actualmente eurodeputado, receia perder a autonomia política: “A Força Itália não está disposta a renunciar à sua história, aos seus símbolos e à sua lista nas próximas eleições”. Porém, não é de afastar uma muito provável coligação pós-eleitoral em caso de eleições antecipadas.

E foi precisamente para evitar eleições antecipadas que os jogos se sucederam nos corredores do Senado antes e durante a votação do calendário. O antigo primeiro-ministro e hoje senador do PD, Matteo Renzi, voltou a pressionar para se formar um governo institucional – coligação entre o PD e o 5 Estrelas –, impedir eleições antecipadas e aprovar o Orçamento do Estado de 2020. “Salvini falhou e tem de renunciar. É necessário um executivo institucional. Todas as forças responsáveis devem dar vida a um executivo para se evitar o aumento do IVA”, disse Renzi em conferência de imprensa no Senado.

Em 2018, depois das últimas legislativas, Renzi, então na liderança do PD, recusou coligar-se com o 5 Estrelas e este acabou por fazê-lo com a Liga, e o líder de centro-esquerda acabou afastado da liderança. Questionado sobre o que mudou, o senador garantiu não se “arrepender” e estar “orgulhoso de ter dito não à coligação 5 Estrelas-PD”, mas que as condições actuais são “completamente opostas” – fala do risco de “orbanização” (lembrando Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro) do regime italiano às mãos de Salvini e da ameaça da recessão.

Itália tem um buraco nas contas públicas na ordem dos 23 mil milhões de euros e caso não seja apresentada uma proposta orçamental ao Parlamento e à Comissão Europeia até meados de Outubro, o IVA subirá automaticamente para os 25%, levando à falência muitas empresas. A economia italiana, já de si frágil, entrará em recessão e o desemprego subirá.

A solução governativa de Renzi caiu, num primeiro momento, que nem uma bomba junto da liderança do PD, porém, aos poucos, vai conquistando adeptos. “É um caminho difícil, mas inteligente, que acho que vale a pena tentar explorar. Será cheio de armadilhas e só o poderemos experimentar com um acordo interno no PD: trabalharemos juntos como equipa, unidos em torno do secretário [Nicola Zingaretti]”, disse o deputado Dario Franceschini.

Zingaretti tem tido dificuldades em posicionar-se nesta crise política. Por um lado, e sem nunca o deixar explícito, recusa o governo institucional por preferir eleições antecipadas – ​poderia afastar os partidários de Renzi de futuras listas. E, por outro, vê-se pressionado ao mais alto nível dentro do seu partido: o antigo líder de Governo controla a maioria da bancada parlamentar do PD e já ameaçou com uma cisão. Assim, o actual líder do PD opta por apelar à “união e expansão de forças” do partido e por dizer que é o momento da “batalha política”, sem dar mais pormenores.

Por sua vez, o 5 Estrelas tem-se concentrado nas críticas à Liga, evitando responder, por agora, ao PD, também mais concentrado no seu debate interno. “Depois de trair os italianos abandonando o primeiro-ministro Conte, esfaqueando o país, Matteo Salvini e a Liga voltam-se também contra o corte dos 345 deputados”, acusou Di Maio horas antes da proposta do líder de extrema-direita.