Deputada do PSD acusa distrital da Guarda de desrespeitar as estruturas do partido

Ângela Guerra foi varrida da lista pelo distrito, apesar de ter sido indicada por três concelhias. A deputada está indecisa se vai ao conselho nacional desta terça-feira. Quem não vai é Miguel Pinto Luz.

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PSD aprova nesta terça-feira, em conselho nacional, a lista de candidatos a deputados para as legislativas de Outubro ADRIANO MIRANDA

As confusões nas listas de candidatos a deputados no PSD continuam. No dia em que o partido aprova em conselho nacional as listas, a deputada Ângela Guerra acusa o presidente da distrital da Guarda, Carlos Peixoto, de a ter afastado, apesar de ter sido indicada por três concelhias e pela própria estrutura distrital do partido.

“É uma profunda desconsideração e desrespeito pelas decisões das estruturas locais. As estruturas locais não servem para nada, as pessoas trabalham, mas na hora de decidir o presidente da distrital toma decisões, à revelia das decisões do partido, de quem vai na lista”, declara Ângela Guerra, que ainda não decidiu se nesta terça-feira à noite vai estar em Guimarães, onde se realiza o conselho nacional do PSD, que se prevê que decorra num tom bastante crispado, com algumas contas para ajustar.

Afirmando que Carlos Peixoto nunca falou com ela sobre as listas, a deputada confirma ter sido indicada por três concelhias: Pinhel (que é a sua secção), Almeida e Aguiar da Beira. O seu nome foi também aprovado pela distrital como sendo a primeira mulher a constar nos três primeiros lugares da lista tendo em conta as indicações das estruturas concelhias.

O líder distrital, o também deputado Carlos Peixoto, que lidera a lista da Guarda, terá feito tábua rasa das indicações das concelhias e colocou a independente Sara Campos, de Seia, como a primeira mulher candidata a deputada ocupando o terceiro lugar da lista, quando o nome aprovado pela concelhia de Seia foi o de Sara Santos, presidente daquela estrutura do partido.

Para número dois foi escolhido Carlos Condesso, ex-chefe de gabinete de Álvaro Amaro, o eurodeputado do PSD que foi constituído arguido no âmbito da Operação Rota Final, desencadeada pela Polícia Judiciária. O ex-autarca estará envolvido num alegado esquema fraudulento de viciação de procedimentos de contratação pública em 18 municípios, entre os quais a Câmara da Guarda, município ao qual presidiu, centrada no Grupo Transdev.

Carlos Condesso lidera a concelhia do PSD de Figueira de Castelo Rodrigo, a cuja câmara municipal se candidatou em 2017, tendo perdido para o Partido Socialista.

Na Guarda, a Juventude Social-Democrata também terá ficado fora das listas. A JSD exigia uma posição na lista em lugar elegível, alegando que tinha sido indicada de forma representativa por algumas estruturas locais. Fonte do PSD garantiu ao PÚBLICO que a JSD da Guarda terá informado que não vai fazer campanha pelo partido na campanha para as eleições legislativas.

Ao PÚBLICO, o presidente da distrital recusa as acusações e afirma que “cumpriu escrupulosamente” as indicações das concelhias. “O que aconteceu foi que houve pessoas que só aceitavam o primeiro ou segundo lugar da lista, como o cabeça de lista é indicado pelo presidente do partido, essas pessoas ficaram de fora e só foram escolhidas aquelas que tiveram mais indicações, como aconteceu com Carlos Condesso”, explicou Carlos Peixoto, acrescentando que o “número dois da lista teve seis concelhias a indicá-lo”.

Direcção acusada de vetar críticos

Marcado para as 21h, em Guimarães, o conselho nacional do PSD decorre numa altura em que a direcção nacional é acusada de vetar os críticos internos das listas de deputado e de impor nomes. Maria Luís Albuquerque (Setúbal), Miguel Pinto Luz (Lisboa), Hugo Soares (Braga), Simão Ribeiro e Luís Vales (Porto) são alguns dos nomes que foram excluídos da lista por imposição directa do presidente do partido.

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais, não vai ao conselho nacional desta noite. À TSF, o autarca do PSD acusa o líder do partido de se contradizer e explica porquê: “Apenas há uns meses, Rui Rio dizia que o PSD não se deve apresentar a eleições como um clube de amigos... [numa alusão a Luís Montenegro, que desafiou o presidente a convocar eleições internas para disputar a liderança do partido]. Isto diz tudo, concordo absolutamente.”

Em várias reuniões, a comissão política nacional, a distrital e o seu líder, o deputado e antigo vice-presidente do PSD, Pedro Pinto, reafirmaram que Miguel Pinto Luz “era o primeiro nome” indicado pelo PSD-Lisboa. No entanto, numa reunião nesta quinta-feira ao final do dia, a direcção revelou que, por indicação do presidente do partido, Miguel Pinto Luz “não seria uma prioridade”, com a distrital a dizer que a sua escolha não estava ser respeitada.

Pinto Luz admitiu candidatar-se à liderança do PSD contra Rui Rio, mas acabaria por recuar. Agora que se vê fora das listas, o vice-presidente da Câmara de Cascais é taxativo: “Não é um veto que me vai impedir de trilhar o meu caminho no PSD.”

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