Sobre o eclecticismo contemporâneo

 A arquitectura, como qualquer outra prática cultural, lida com o tempo. O que lhe calha em cada presente, o que lhe antecede e o outro que há-de vir. É sempre a formalização das forças que o tempo convoca num lugar. Por isso, em boa medida, se quisermos procurar o que a arquitectura vai ser temos de nos habituar a ver para fora dela. O texto de Paulo Martins Barata Moderno Nunca Mais in Memoriam Manuel Graça Dias no Ípsilon (29/3/2019) traz-nos uma visão da arquitectura que revela muito mais do passado e do presente do que o futuro. E traz também a evidência do eclecticismo que vivemos hoje. Há muitos a comprazer-se com ideias sobre a circularidade da história. É sempre um exercício com algum risco de acerto, tendemos a reagir de forma semelhante a coisas que se assemelham, mesmo que possam ser fundamentalmente distintas. Por isso é tentador pensar que aquilo que vivemos hoje se possa chamar “eclecticismo” e foi isso que se chamou ao primeiro período do Moderno, o eclecticismo do século XIX. E o que é isso do eclecticismo? É um revolver-se sobre o presente e o passado, o jogo dos estilos do passado incorporando coisas do presente que, sendo importantes, não o são o suficiente para uma refundação das linguagens da arquitectura. E não são suficientes porque tudo à volta, a filosofia, a política, a sociedade, não geraram ainda uma cultura que torne tão evidente os fundamentos e os aspectos da mudança. Mesmo que possamos perceber a latência de alguns deles. E, por outro lado, nunca a arquitectura gerou de si mesma, da discussão sobre si mesma, a sua própria mudança. Não é essa a sua natureza. Volto ao início do texto, a arquitectura é sempre a formalização daquilo que existe e nunca a fundação do que virá. É uma actividade colectiva e social, é assim que se manifesta, mesmo que o faça através do filtro de um autor.

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