De arquitectos para arquitectos: um rap para denunciar a precariedade da profissão

“É o estado da arte, é o estado da arte”: para a Central Arquitectos falta dignidade e respeito pela profissão de arquitecto. Por isso, e a convite da bracarense Bangart, a trienal de arte dedicada em grande parte à arquitectura que em 2018 versava o tema Estado da Arte, o gabinete fez uma canção para descrever o “estado do exercício da profissão de arquitecto [em Portugal]”, como explica ao telefone com o P3 Vale Machado, arquitecto sócio do atelier e um dos responsáveis pela ideia.

“A melhor forma de nos manifestarmos quando algo não nos agrada é através da música”, garante o arquitecto, que considera o rap a “música de intervenção” dos dias de hoje. O gabinete de arquitectura narra assim o cenário que se vive na profissão, recentemente corroborado por um estudo promovido pela Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos, segundo o qual Portugal tem o segundo maior número de arquitectos per capita na Europa, mas também os profissionais mais mal pagos do sector. Como ilustra, no vídeo, o arquitecto feito rapper: "Arquitecto contrata arquitecto sem salário para trabalho por inteiro com dinheiro nem a meio. O verde é a cor de ser imaginário, não devia ser cor de recibo de salário."

“De facto, o que acontece hoje é que os arquitectos estão sujeitos a um sistema laboral pouco dignificante, em que ocorre muito a exploração do arquitecto pelo arquitecto”, explica Vale Machado, que considera o problema “cultural”. “Isto acontece porque, para além de sermos muitos e o mercado ser pequeno, os arquitectos que podem promover condições de trabalho dignas têm uma tendência para o abuso da abundância”, refere, em alusão aos estágios não remunerados e consequente exploração de arquitectos estagiários. Para Vale Machado, é “muito simples”: “Se o princípio não é digno, o fim também não o será.” E os arquitectos “têm que ter um processo de autoconsciência do mal que produzem a si próprios”, sem esquecer que não se pode “dignificar uma profissão que tem pressupostos indignos”.