“Lixo de luxo”: Ana e Catarina fazem roupas com o desperdício de fábricas portuguesas

Designers transformam o desperdício da indústria têxtil em roupas que nunca são iguais umas às outras. “É lixo de luxo porque não deixa de ter muitas condições e pode ser reaproveitado”, dizem. A marca Less buy.less já levou a sustentabilidade ao Portugal Fashion.

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Imagens retiradas do Instagram da marca. Fotógrafo: Nuno Guerreiro de Sousa

Ana Eusébio e Catarina Gonçalves desenham roupa com “lixo de luxo”. As duas designers do Algarve criaram a Less buy.less, um projecto de aproveitamento de desperdícios têxteis alojado na incubadora de empresas de moda e design da Fábrica de Santo Thyrso. “O material que vai para as lixeiras ou é utilizado nas empresas como rastilho”, para as duas designers “é lixo de luxo, porque não deixa de ter muitas condições e pode ser reaproveitado”, explicou Ana Eusébio.

Atraídas por Santo Tirso, enquanto região de produção massiva no sector, Catarina Gonçalves referiu que a marca já participou em 2018 no Portugal Fashion, altura em que apresentaram a coleção Isolation, que teve como base o “tema da ansiedade, depressão e stress”. “Gostamos de fazer coisas com o nosso consumidor e acabamos por fazer um questionário e perguntar às pessoas o que é que elas sentiam quando estavam nesses estados e com base nas respostas desenvolvemos a colecção.” As duas designers venceram também o primeiro prémio do programa Santo Tirso Empreende, na área da Moda e Design de Moda.

“O maior desafio neste momento é que o nosso consumidor perceba que as peças são únicas, porque são feitas de desperdício. Ou seja, nós podemos reproduzir várias vezes a mesma peça, mas vai sempre ser num material diferente porque é o material que vamos ter disponível no momento”, explicou Ana Eusébio.

A abertura de um atelier próprio está nos planos para 2023. O Porto é um possível destino, “por conseguir ser muito mais acessível do que Lisboa, a nível financeiro em termos de mercado”, e por estar “nitidamente a crescer e a acompanhar as tendências”. “Queremos criar um atelier que seja um espaço colaborativo. Que desse para nós trabalharmos, para expormos as nossas peças, mas que também desse para outros criadores lá trabalharem, [como] arquitectos, designers, etc”, explicou Catarina Gonçalves. “As pessoas ainda precisam de um contacto físico e nós também queremos esse contacto”, sublinhou Ana Eusébio, sustentando uma política que as faz querer sempre “criar algum tipo de contacto com o consumidor”.

E exemplificou: “a primeira colecção partiu de um inquérito, a segunda foi um desafio ao público, nesta terceira estamos a mobilizar imensas pessoas para trabalharem connosco. Sabemos que os canais online são a melhor forma de chegar às pessoas, mas queremos que as pessoas venham fisicamente ter connosco e conhecer-nos”.

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