A relva sem balizas

O facto de os “trintões” Djokovic, Nadal e Federer continuarem a dominar no ténis, não quer dizer que não tenham concorrência ou que faltem jovens valores de qualidade.

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Reuters/HANNAH MCKAY

Joga-se por estes dias, em Inglaterra, um dos maiores eventos desportivos do ano: o Torneio de Wimbledon. E, até agora, quando já decorre a segunda semana do torneio de ténis britânico, os favoritos têm prevalecido com relativa facilidade, como aliás tem vindo a acontecer com frequência nos grandes torneios, não obstante a emergência em quantidade e em qualidade de novos talentos. De facto, Djokovic, Nadal e Federer (pela ordem actual do ranking ATP - Association of Tennis Professionals) têm dominado de forma avassaladora o circuito, detendo entre si a impressionante marca de 53 títulos do Grand Slam, que são, para quem não acompanha a modalidade, os principais torneios da temporada tenística.

O tenista sérvio, detentor de 15 títulos do Grand Slam, impressiona pela sua consistência de jogo, extraordinária capacidade defensiva que apresenta (o que não quer dizer que seja um jogador defensivo) e resposta ao serviço, que é por muitos considerada a melhor do circuito. Tem também o indiscutível mérito de se conseguir intrometer na discussão sobre quem é o melhor tenista de todos os tempos, uma discussão que alguns acreditariam estar confinada a Nadal e a Federer.

Já o espanhol Rafael Nadal conhecido como o “Touro de Manacor”, que ainda há dias esteve “demolidor” no encontro com o português João Sousa, é o melhor jogador da história em terra batida, tendo já vencido Roland Garros em 12 ocasiões, num total de 18 Slams, apesar do número significativo de torneios falhados durante a carreira devido a lesão. E, ao contrário do que o imponente físico pode sugerir, não baseia exclusivamente o seu ténis na dimensão física, sendo também dono de uma técnica invejável.

Por último, o suíço Roger Federer. Recordista de títulos do Grand Slam com 20 conquistas, é provavelmente o jogador mais gracioso e artístico que podemos ver em court, dotado de uma técnica e de uma beleza de movimentos apenas ao alcance dos predestinados.

Prenuncia o domínio claro destes três homens uma certa falta de competitividade que acaba por desencadear alguma pobreza no espectáculo? De maneira alguma. O facto de estes “trintões” continuarem a dominar não quer dizer que não tenham concorrência ou que faltem jovens valores de qualidade. Antes assinala que eles são realmente muito bons, os melhores da história, e é um privilégio não só para os amantes do ténis, mas do desporto, acompanhar estas inigualáveis histórias de longevidade, ambição e paixão pela modalidade.

Também pela singularidade das regras, o meu gosto pelo ténis tem vindo a crescer. Ali, isolados no court, impossibilitados de receber indicações das equipas técnicas, os jogadores tomam por si as próprias decisões. Se decidirem bem, ganham; se decidirem mal, perdem. E não há arbitro ou treinador, nem sorte nem azar, com que se possam desculpar. Tem-se discutido a introdução do coaching, que se traduz na possibilidade de haver comunicação entre a equipa técnica e o jogador durante os encontros. Parece-me que tal mudança acabaria por descaracterizar a modalidade e desresponsabilizar o jogador.

O ténis é também uma das poucas modalidades onde a duração da partida está como que indexada à qualidade do espectáculo, entendida em termos de equilíbrio entre os contendores. Um encontro tanto pode durar hora e meia, ou até menos do que isso, como prolongar-se durante várias horas.

Por último, o ténis pode ser uma importante fonte de pedagogia desportiva. Por norma, o ambiente é saudável, de respeito mútuo e, mais distintivo do que tudo o resto, os jogadores são os verdadeiros protagonistas, não só ao nível da sua actuação, mas também — e aqui reside a grande diferença — ao nível do discurso e da exposição de ideias. Algo que, por exemplo, no futebol aparece como excepção ao chorrilho de banalidades que a maioria dos intervenientes debita, quais gravadores sem conteúdo.

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