Estudantes de Hong Kong desconfiam dos apelos do Governo a um “diálogo franco”

Chefe do Executivo do território convidou as associações de estudantes para uma reunião à porta fechada, para se discutir os protestos das últimas semanas.

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Centenas de estudantes invadiram o Parlamento local na segunda-feira LUSA/RITCHIE B. TONGO

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, convidou as associações de estudantes do território para discutirem os gigantescos protestos das últimas semanas, mas as respostas iniciais não foram positivas. Uma das associações recusou o convite porque a reunião seria à porta fechada, e outra exige que as autoridades não investiguem os manifestantes como condição para o diálogo.

“O diálogo deve ser aberto a todos os cidadãos de Hong Kong, e todos devem ter o direito de falar”, disse a associação de estudantes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.

Antes, uma porta-voz da chefe do Executivo tinha dito que a reunião seria realizada “à porta fechada e com poucas pessoas”, para que fosse possível “trocar pontos de vista de uma forma aprofundada e franca”.

Mas essa promessa não foi suficiente para aliciar os estudantes, desconfiados de que a aproximação do Executivo seja uma manobra de propaganda.

“Não entendemos porque é que ela não respondeu de forma franca às exigências do povo, e agora prefere fazê-lo numa reunião à porta fechada”, criticou Jordan Pang, líder da associação de estudantes da Universidade de Hong Kong.

“Queremos saber se o Governo quer comunicar com os jovens de forma sincera, ou se isto é mais um golpe de relações públicas”, disse o mesmo responsável, citado pela agência Reuters.

Em causa está uma proposta de lei, entretanto suspensa, mas não afastada de forma definitiva, para que os suspeitos de crimes em Hong Kong possam ser julgados na China continental, onde os tribunais são controlados pelo Governo chinês.

Desde a transição do Reino Unido para a China, em 1997, os habitantes de Hong Kong lutam para que as autoridades locais mantenham a independência do seu sistema judicial e as liberdades que os distinguem dos chineses do continente. Na segunda-feira, centenas de jovens invadiram o Parlamento do território e escreveram nas paredes mensagens contra o Governo chinês e a chefe do Executivo.

Para além disso, há uma exigência de fundo que condiciona toda a discussão no território, incluindo as manifestações das últimas semanas. Em 2007, o então Presidente chinês, Hu Jintao, prometeu que Hong Kong poderia começar a eleger os seus representantes através de sufrágio universal e directo a partir de 2017, mas o seu sucessor, Xi Jinping, não cumpriu essa promessa.

Em 2014, o Governo chinês determinou que a eleição do chefe do Executivo de Hong Kong tem de ser feita a partir de um grupo de candidatos pré-aprovados – e foi nessas eleições que Carrie Lam, próxima de Pequim, chegou ao poder.

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