Farmácias hospitalares no Alentejo podem deixar de produzir medicamentos para quimioterapia

A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, lamenta a falta de planeamento de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde e afirma que continua a haver casos em que não há substituição de trabalhadores que estão de baixa ou em licença de parentalidade.

Foto
PAULA ABREU / PUBLICO

A Ordem dos Farmacêuticos alertou esta quinta-feira para a situação difícil em que se encontram os serviços farmacêuticos dos hospitais no Alentejo, avisando que algumas unidades podem deixar de produzir medicamentos para quimioterapia.

Em declarações à agência Lusa, a bastonária Ana Paula Martins avisou que a falta de recursos põe os serviços de farmacêuticos de vários hospitais próximos da “linha vermelha” e pede que se olhe com atenção, por exemplo, para o Alentejo. “Em quase todo o Alentejo, como os casos de Elvas, Portalegre e Beja há situações muito difíceis há muito tempo. Com o aproximar das férias do verão, com situações de baixa por doença e de parentalidade que não são substituídas, estamos à beira ter de deixar de produzir quimioterapia. Se acontecer em Elvas, por exemplo, os doentes têm de receber quimioterapia noutro hospital, o que implicará terem de fazer muitos quilómetros”, avisou.

Aludindo ao caso das maternidades em Lisboa, a bastonária indica que actualmente o “conceito de rotatividade” entre unidades de saúde “é aquele que está a prevalecer”, porque os doentes não podem ficar sem cuidados.

Ana Paula Martins dá ainda o exemplo da dispensa de medicamentos em regime de ambulatório por parte das farmácias hospitalares. Em muitos casos, há farmácias hospitalares que têm de fechar às 16h00 por falta de recursos humanos. “O que fazem as pessoas? Têm de faltar ao trabalho para ir buscar os seus medicamentos, seja para o VIH, para a hepatite C ou para a esclerose múltipla?”, questiona.

A bastonária lamenta a falta de planeamento de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde e afirma que continua a haver casos em que não há substituição de trabalhadores em licenças de parentalidade, por exemplo, quando recentemente foi publicado um diploma que pretendia agilizar estas situações, dispensando autorização do Ministério das Finanças. “A saúde é uma área onde as pessoas, os doentes, pagam com a vida os erros”, frisou Ana Paula Martins.

A representante dos farmacêuticos lamenta também que a carreira dos farmacêuticos ainda não esteja regulamentada, apesar de ter sido criada. A falta de regulamentação faz com que os hospitais ou não possam contratar profissionais ou o façam à margem da lei, fora do enquadramento da carreira específica.

“O Ministério da Saúde tem de explicar o que pretende que se faça e o que está a acontecer”, apela a bastonária. Um dos objectivos da carreira era a criação de um internato no SNS permitindo a formação de novos farmacêuticos que pudessem tornar-se especialistas.

Sugerir correcção
Comentar