Cinco histórias para acompanhar nesta Copa América

Neymar é o grande ausente na maior competição de selecções da América do Sul. Mas não é apenas dessa ausência que se fará a história desta edição.

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Reuters/AGUSTIN MARCARIAN

Aquela que é a mais antiga competição de selecções do mundo vai disputar-se, desta vez, no Brasil. E há várias narrativas curiosas para seguir.

Sem Neymar e com Messi

Boa parte da narrativa desta Copa América gira em torno da ausência de Neymar na selecção brasileira e da enésima tentativa de Lionel Messi de ganhar alguma coisa com a argentina. O avançado do PSG teve uma época terrível, por todas as razões, e, se calhar, agradece estar fora dos relvados numa altura em que a sua vida está recheada de incertezas — foi acusado de violação por uma modelo brasileira, e corre na imprensa internacional que o PSG o quer dispensar. Já Messi, depois de ter feito mais uma pausa na selecção argentina, regressa para liderar uma equipa que tem tendência para a autodestruição, como se viu, por exemplo, no Mundial do Verão passado, em que os jogadores se revoltaram contra Jorge Sampaoli. Diz-se que uma das exigências de Messi para regressar foi a chamada de Aguero, que estaria descartado por Scaloni, e a não convocação de Icardi, que não faz parte do ciclo de amigos do avançado do Barcelona. Messi foi campeão mundial sub-20 em 2005 e campeão olímpico em 2008, mas, nos 14 anos que já leva na selecção principal, nada tem para mostrar a não ser ser uma sucessão de fracassos. Aos 32 anos, Messi já não tem muito tempo para chegar ao pedestal do futebol argentino que continua a ser ocupado por Diego Armando Maradona.

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Os “cafeteros” de Queiroz

Depois de oito anos ao comando do Irão, Carlos Queiroz mudou de continente, foi trabalhar para a América do Sul e vai ter nesta Copa América a sua primeira grande tarefa como seleccionador da Colômbia, que ganhou a competição continental apenas uma vez (2001). Se ganhar o torneio, o técnico português entra para a história: será apenas o segundo treinador estrangeiro a conquistar a Copa América, 80 anos depois do britânico Jack Greenwell o ter feito em 1939 com a selecção peruana. Queiroz tem uma prova de fogo logo a abrir, um confronto com a Argentina, que já defrontou no Mundial 2014 enquanto seleccionador do Irão — os iranianos só foram batidos nos instantes finais com um livre de Messi. “Com a qualidade, o talento e a experiência que temos na selecção e com a nossa atitude competitiva, temos uma boa oportunidade de ganhar o próximo jogo, nada mais”, alertou Queiroz, o primeiro português a treinar uma selecção sul-americana.

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O desafio da Venezuela

A Venezuela é a única selecção da América do Sul que nunca esteve na fase final de um Mundial, aquela que tem o pior currículo na Copa América — o melhor que conseguiu foi um quarto lugar em 2011 — e não haverá país do continente que esteja mergulhado numa crise social, económica e política tão grande como a República Bolivariana da Venezuela. E, no entanto, os “vinotinto”, que ocupam a sua melhor posição de sempre no ranking FIFA (29.º), apresentam-se no Brasil dispostos a escrever uma página brilhante do futebol venezuelano, já a colher frutos da selecção que foi vice-campeã mundial de sub-20 em 2017, e a beneficiar da rodagem dos seus melhores jogadores na Major League Soccer dos EUA ou na Premier League inglesa — e na liga portuguesa, com o central Osório e o avançado Murillo. A prova desta evolução está na excelente sequência de resultados obtidos nos últimos meses, apenas uma derrota (frente ao México) nos últimos oito jogos, e uma vitória rara frente à Argentina, em Março. “Melhorámos e crescemos em todos os sentidos”, reconheceu Salomon Rondón, avançado que passou a época passada no Newcastle e que reconhece a importância desta Copa América para o povo venezuelano: “Todos conhecem a situação do nosso país. Queremos mandar mensagens de alegria e fazer com que as pessoas, pelo menos durante 90 minutos, só pensem em futebol e não no que está a acontecer.”

Os portugueses e os “portugueses”

A Copa América 2019 tem um jogador português (Ró-Ró, jogador nascido em Mem Martins que joga pelo Qatar), um treinador português (Carlos Queiroz, seleccionador da Colômbia) e seis jogadores que actuaram em Portugal esta época. O Sporting está representado no torneio por três jogadores em três selecções diferentes — o uruguaio Sebastian Coates, o argentino Marcos Acuña e o colombiano Cristian Borja. A selecção venezuelana tem dois jogadores da Liga portuguesa, o central Yordan Osório, que representou o Vitória de Guimarães por empréstimo do FC Porto, e o avançado Jhon Murillo, do Tondela. Entre os 23 convocados por Tite para a selecção brasileira está Éder Militão, que o FC Porto já vendeu ao Real Madrid por 50 milhões de euros. Se Militão estará no Bernabéu a partir da próxima época, o Dragão irá ver de perto Renzo Saravia, lateral-direito que o FC Porto contratou ao Racing Avellaneda. E entre os 276 jogadores estão muitos que já passaram pelo futebol português. O Brasil tem bastantes (Éderson, Casemiro, Thiago Silva e Alex Sandro), tal como a Argentina (Di Maria e Otamendi), a Colômbia (James, Falcao e Arias) ou o Paraguai (Iturbe, Derlis, Piris e o super-veterano Óscar Cardozo, que, com 36 anos, continua a ser um avançado muito produtivo no Libertad de Asunción).

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Os convidados

Desde 1993 que a Copa América passou a incluir, pelo menos, dois convidados de outras latitudes e, como vai acontecer ao mesmo tempo que a Gold Cup da CONCACAF, os convidados de 2019 vêm da Ásia — e os da Copa 2020, organizada por Argentina e Colômbia, também serão da Confederação Asiática, a Austrália e o Qatar. O Japão cumpre a sua segunda participação, enquanto o Qatar, campeão asiático, se estreia no torneio. A selecção nipónica apresenta-se com muita juventude (17 dos 23 convocados não têm qualquer internacionalização A) e vai usar a Copa América como um ensaio para o torneio olímpico de futebol nos Jogos de Tóquio do próximo ano. Já o Qatar, que conta com o defesa português Ró-Ró, vai usar a Copa América como palco para mostrar o crescimento acelerado que tem tido nos últimos anos sob o comando do espanhol Félix Sánchez e testar-se contra selecções mais cotadas antes de receber a fase final do Mundial em 2022. E como se têm portado os convidados na Copa América? O México tem sido, de longe o melhor de todos, duas vezes finalista vencido e três terceiros lugares. As Honduras também chegaram uma vez ao terceiro lugar, enquanto os EUA ficaram duas vezes em quarto.

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