Trump foi diplomático com May e crítico com as “forças negativas” do Labour

De visita ao Reino Unido, Presidente dos EUA felicitou gestão do “Brexit” pela primeira-ministra, elogiou Johnson e Hunt e rejeitou encontrar-se com Corbyn. “Um grupo muito reduzido de pessoas”, disse sobre os protestos em Londres.

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Foi um Donald Trump bem mais previsível, cordial e diplomático do que se esperava, aquele que falou esta terça-feira aos jornalistas, ao lado de Theresa May, após o principal ponto do programa do segundo dia da visita de Estado ao Reino Unido. O Presidente dos Estados Unidos desfez-se em elogios à primeira-ministra demissionária, não fez qualquer comentário incómodo sobre a sua gestão do dossiê do “Brexit”, foi neutral na hora de falar sobre os seus possíveis sucessores e disse estar a fazer figas para um “acordo de comércio fenomenal”.

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Foi um Donald Trump bem mais previsível, cordial e diplomático do que se esperava, aquele que falou esta terça-feira aos jornalistas, ao lado de Theresa May, após o principal ponto do programa do segundo dia da visita de Estado ao Reino Unido. O Presidente dos Estados Unidos desfez-se em elogios à primeira-ministra demissionária, não fez qualquer comentário incómodo sobre a sua gestão do dossiê do “Brexit”, foi neutral na hora de falar sobre os seus possíveis sucessores e disse estar a fazer figas para um “acordo de comércio fenomenal”.

“Acredito que [o ‘Brexit’] vai acontecer e penso que a primeira-ministra trouxe-o até um ponto muito bom. Ela fez um excelente trabalho e será muito bom para o país”, elogiou Trump que, ao contrário do que tinha feito na visita do ano passado, desta vez não criticou as opções de May, não a desautorizou em público nem elogiou os seus adversários políticos.

As principais críticas do Presidente foram dirigidas ao líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, e ao mayor de Londres, Sadiq Khan (também trabalhista), vistos pelo norte-americano como “forças negativas”, que preferem “criticar” em vez de “lidarem com os seus problemas”. 

Trump disse mesmo ter rejeitado um convite de Corbyn para um encontro – que o porta-voz do trabalhista confirmou, para que se pudesse discutir a “emergência climática, as ameaças à paz e a crise dos refugiados”.

A participação dos trabalhistas nos protestos contra a presença de Trump no Reino Unido no centro de Londres não preocupou o Presidente dos EUA, que optou por desvalorizar o número de manifestantes e criticar a cobertura dos media.

“Vi milhares de pessoas nas ruas a aplaudir-nos (...) e só depois me disseram que também havia protestos. E eu disse: ‘Que protestos? Não vejo nenhum protesto!’”, contou Trump. “Só há pouco é que vi esses manifestantes e era um grupo muito, muito pequeno de pessoas, ali colocadas por razões políticas, por isso são fake news (notícias falsas)”, denunciou.

Ainda que longe das 100 mil pessoas que saíram à rua durante a primeira visita de Trump ao país (2018), milhares de manifestantes juntaram-se esta terça-feira em Trafalgar Square, na capital britânica, para contestar a presença do Presidente dos EUA. Outras cidades do Reino Unido, como Birmingham, Leicester, Glasgow ou Edimburgo, também foram palco de protestos.

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Depois de, na véspera, ter sido participado numa série eventos promovidos pela família real britânica, Trump dedicou o segundo dia da visita ao Reino Unido a discussões bilaterais com o Governo britânico. Num pequeno-almoço de trabalho que também contou com membros da realiza e empresários foram debatidas questões comerciais, nomeadamente as “diferenças de perspectiva” sobre o papel da empresa chinesa Huawei na instalação da rede 5G no país.

Nesse encontro o Presidente dos EUA terá mesmo desafiado May a “deixar-se ficar” no Governo – abandona a liderança do Partido Conservador na sexta-feira e depois o posto de primeira-ministra –, para poder “fechar um acordo” com Washington. “Sou uma mulher de palavra”, afiançou May aos jornalistas, rejeitando a sugestão.

Mais tarde, em Downing Street, Trump, May e os respectivos secretários de Estado e ministros debateram a parceria entre os países na NATO, o acordo nuclear do Irão e possíveis compromissos económicos após a saída do Reino Unido da União Europeia. 

Na conferência de imprensa conjunta, ao início da tarde, a primeira-ministra britânica e o Presidente norte-americano enalteceram a “relação especial” entre EUA e Reino Unido e mostram estar em sintonia sobre a grande maioria dos temas debatidos, nomeadamente a necessidade de se aumentarem os respectivos orçamentos de Defesa e as contribuições dos Estados-membros para a aliança atlântica.

Questionado sobre os contactos mantidos com os possíveis sucessores de Theresa May, Trump optou por uma posição diplomática, bem distinta da última vez que esteve no país. Sem abdicar de elogiar Boris Johnson, tido como seu “favorito”, o líder norte-americano também fez questão de dizer que o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, outro candidato, também “fará um excelente trabalho”.

Trump falou com Johnson ao telefone, mas este abdicou de se encontrar pessoalmente com o Presidente, por estar envolvido em acções de campanha relacionados com a sua candidatura ao cargo de May. 

O chefe de Estado norte-americano vai reunir-se, ainda assim, com Michael Gove, ministro do Ambiente e apontado como o principal rival de Johnson na corrida à liderança tory – e ainda com Nigel Farage, líder do Partido do Brexit.

As diferentes posições dos candidatos sobre o futuro do “Brexit” também vieram à baila na sessão de perguntas e respostas aos dois líderes. Mas Trump – que já disse preferir um corte total entre Londres e Bruxelas – preferiu apontar o potencial comercial do divórcio. 

E assumiu estar de olho no apetecível NHS, o serviço nacional de saúde britânico, motivando críticas várias, dentro e fora do Partido Conservador. “Vamos alcançar um excelente e detalhado acordo comercial”, prometeu Trump. “Quando lidamos com um acordo desta natureza, está tudo em cima da mesa, por isso o NHS e tudo o resto também estão”.