Cristas esquiva-se a falar da “crise da direita” de Marcelo

Nas jornadas parlamentares, líder do CDS garantiu que o partido está a “trabalhar” para fazer uma oposição “séria e responsável”.

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Assunção Cristas com Cecília Meireles, líder da distrital do CDS-Porto LUSA/FERNANDO VELUDO

As jornadas parlamentares do CDS, que são dedicadas à saúde e terminam nesta terça-feira, no Porto, eram a oportunidade ideal para a Assunção Cristas virar a página das europeias que correram mal ao partido, mas o Presidente da República inscreveu o risco de “uma crise no centro-direita português” na agenda política e a pergunta tornou-se incontornável.

Apostada em deixar para trás as eleições para o Parlamento Europeu e em mostrar que o partido tem uma nova estratégia, Assunção Cristas disse que, depois do fraco resultado nas europeias de 26 de Maio, o partido está a “trabalhar intensamente para as coisas serem diferentes” nas legislativas de Outubro.

Na sexta-feira, a partir da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento onde discursou em inglês, Marcelo Rebelo de Sousa agitou o fantasma de possível uma crise na direita portuguesa nos próximos anos. O líder do PSD, Rui Rio, apressou-se a reagir, declarando que a análise do Presidente era até “optimista” e “superficial”, porque a crise toca a todos e é, na verdade, um problema de regime. Faltava Assunção Cristas.

Os jornalistas aproveitaram uma acção de voluntariado dos deputados do CDS, que foram ajudar a pintar um refeitório do centro paroquial de Valbom (Gondomar), e questionaram a líder centrista sobre a questão da “crise”. Mas Assunção Cristas evitou entrar nesse jogo, por considerar que abrir uma polémica agora, já em clima de pré-campanha para as legislativas, é contraproducente.“Como é a preocupação do Presidente”, o partido está a “trabalhar” para fazer uma oposição “séria e responsável”, afirmou Cristas.

“Temos trabalhado intensamente para ser essa oposição. As eleições legislativas são em Outubro, em Outubro veremos. Cada eleição é uma eleição”, sublinhou, acrescentando que os centristas têm a mesma preocupação do Presidente da República que é “ser uma oposição forte, sempre construtiva, que mostre uma alternativa para o país”.

A sessão de voluntariado no centro paroquial de Valbom funcionou como “um sinal político” da direcção do partido, para “sublinhar a ideia da valorização do sector social” e o envolvimento da sociedade civil na construção de uma sociedade melhor”.

Tendo a saúde como tema de fundo destas jornadas, o CDS garantiu que se vai opor à proposta de nova Lei de Base da Saúde, que tem discussão agendada no Parlamento para 11 de Junho, argumentando que é um diploma feito “de véspera, e em vésperas de eleições”, apenas para “servir os interesses eleitorais da esquerda e da extrema-esquerda, e não para melhorar a saúde das pessoas”. O líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, proclamou que o partido não deixará que “a Lei de Base da Saúde se transforme num brinquedo ideológico das maiorias de esquerda”.

Insurgindo-se contra o Governo pela forma como tem gerido o sector da saúde, o deputado declarou, na sessão de abertura das jornadas, que o executivo “não só não salvou [o Serviço Nacional de Saúde] como agravou” a sua situação, e atirou o exemplo do Centro Hospitalar Gaia/Espinho que a comitiva de deputados do CDS visitaria à tarde.

“Vítima” de cativações orçamentais do ministro das Finanças, Mário Centeno, o Centro Hospitalar Gaia/Espinho assistiu em 2018 a uma série de demissões de directores de serviço que alegaram não ter condições para prestar cuidados de saúde aos doentes com dignidade. No dia 1 de Abril, foi a vez do presidente do conselho de administração, António Dias Alves, bater com a porta, renunciando ao cargo, face à falta de resposta do Governo aos graves problemas ao nível das instalações, ao estrangulamento do investimento, saída de profissionais e à reduzida autonomia de gestão existente.

No final da reunião com o director clínico, José Moreira da Silva, e do vogal da administração, Manuel Carvalho, a deputada Cecília Meireles disse que, se “há um ano estava em causa a falta de condições materiais para os cuidados de saúde serem prestados, passado este tempo todos os problemas mantêm-se”.

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