Os investimentos de milhões de Pedro Pinto, o novo proprietário do Teatro Sá da Bandeira

Na primeira década de 2000 foi um dos intervenientes num processo judicial de fraude entre liquidatários e leiloeiras, tendo sido condenado a 17 anos de prisão e posteriormente ilibado. Hoje, é proprietário de vários prédios no Porto e responsável pelo Centro Empresarial Lionesa, em Leça do Balio.

Foto
Marco Duarte

Administrador do Centro Empresarial Lionesa, em Leça do Balio, investidor imobiliário, proprietário de vários prédios no Porto, Pedro Pinto, é um dos novos donos do Teatro Sá da Bandeira, comprado em hasta pública nesta quinta-feira, via Lello, livraria da qual é sócio maioritário desde 2015. Entre negócios e investimentos de muitos milhões, no início de 2000, foi um dos arrolados num processo judicial de fraude entre liquidatários e leiloeiras, pelo qual veio a ser condenado a 17 anos de prisão efectiva, sendo posteriormente ilibado. Para o último negócio escolheu investir no mítico teatro portuense, a poucos minutos da rua do Loureiro, onde em 2017 comprou cinco edifícios.

Três milhões e meio de euros, foi quanto pagou pelo último investimento. No leilão para vender o edifício propriedade da câmara, que o adquiriu com a finalidade de o vender, assegurando que se mantinha a funcionar com o propósito para o qual foi inaugurado em 1855, teve apenas como concorrente o ex-seleccionador nacional, António Oliveira, actual proprietário da Brasileira, edifício que está do outro lado da rua, que aos 3,2 milhões de euros saiu da corrida.

Este é apenas um de muitos investimentos de milhões realizados pelo responsável pela Lionesa. Para este centro empresarial (CE), até 2025, está previsto um investimento de 100 milhões de euros, por via de capitais próprios, para duplicar a sua área de capacidade, anunciou Pedro Pinto em Junho de 2017. Fundado em 2002, em Outubro de 2011, o CE, numa primeira fase de expansão, já tinha investido 12,5 milhões de euros, quando agregou outros antigos complexos industriais ao centro.

Outros investimentos realizados por este grupo empresarial foram o da aquisição dos terrenos da quinta do mosteiro de Leça do Balio, que custaram ao CE 2 milhões de euros, assim como o investimento inicial realizado na antiga fábrica onde funciona agora a Lionesa, do qual não conseguimos apurar o valor. Mais recentemente, perto da antiga fábrica foram comprados ainda uns armazéns no valor de 2 milhões de euros. Estes valores foram adiantados pela directora geral da Lionesa. Contactada pelo PÚBLICO, uma das assessoras de Pedro Pinto disse que o administrador não está disponível para depoimentos até o processo de resolução do direito de preferência que o actual arrendatário do Sá da Bandeira poderá accionar estar resolvido.

No Porto, Pedro Pinto, em 2015, adquiriu 51% da Lello, do qual é sócio maioritário. O gabinete de comunicação da livraria desconhece o valor do investimento, contudo adianta que as obras de restauro realizadas no edifício, em 2017, custaram ao investidor 2 milhões de euros. Ainda na rua das Carmelitas, segundo a mesma fonte, a Lello expandiu para os Armazéns do Castelo, mas em regime de arrendamento, do qual diz desconhecer o montante. Contudo, ainda que o edifício não tenha sido adquirido, a empresa titular dos dois estabelecimentos, A. Vale & Cia, Lda, foi igualmente adquirida.

Ainda no centro da cidade, junto à estação de São Bento, na rua do Loureiro, o investidor adquiriu, em 2017, cinco prédios. Em três desses edifícios funciona a Pensão Douro, a Casa Arcozelo e a Confeitaria Serrana, diariamente visitada por turistas que lá entram para espreitar o quadro pintado por Acácio Lino que ocupa toda a área do tecto. Aqui, a Lionesa desembolsou 1 milhão de euros.

Processo judicial e conta offshore

Pedro Pinto foi ainda um dos proprietários da Sociedade Nacional de Leilões, que partilhava com a esposa, Aurora Pinto. Esta sociedade protagonizou, entre o início de 2000 e o final da mesma década, um processo judicial de fraude entre liquidatários e leiloeiras. O investidor e a esposa chegaram a ser condenados a prisão efectiva – o primeiro a 17 anos e a segunda a 14 anos -, tendo sido os dois, posteriormente, ilibados. De acordo com notícia publicada no PÚBLICO, em 2009, o Ministério Público imputou, na altura, ao casal 108 crimes de participação económica no negócio, 107 de corrupção activa e 11 crimes de peculato. Apesar de a procuradora ter reconhecido que outros alegados crimes ficaram por provar, calculou que os dois obtiveram pelo menos cinco milhões de euros de benefícios com os ilícitos. Dá conta a mesma notícia que, entre Setembro de 1998 e Março de 1999, foram transferidos mais de 10 milhões de euros para uma conta offshore do casal, em Nassau.

Sugerir correcção
Ler 11 comentários