Apoio financeiro “salva” a arte xávega em Vagos

Autarquia entregará 5.000 euros por ano a cada uma das duas companhas do concelho. E estuda a possibilidade de voltar a colocar uma junta de bois no areal.

Foto
Rui Gaudencio

Os patriarcas das duas companhas de arte xávega das praias da Vagueira e do Aerão, foram peremptórios: “Se não era este apoio, éramos obrigados a parar”. A câmara municipal de Vagos oficializou, esta sexta-feira, a atribuição de um apoio financeiro a esta pesca artesanal, ajudando a que a tradição não se perca. O protocolo prevê a atribuição de um apoio financeiro de 5.000 euros por ano a cada companha, sendo que, este ano, os pescadores receberão mais 2.500 euros, para compensar “o ano de 2018”, explicou Silvério Regalado, presidente da autarquia.

O documento é válido por dois anos, mas o autarca já fez saber que “a ideia é que se estenda no tempo”. “Esta actividade tem um grande peso no desenvolvimento turístico do concelho de Vagos”, argumentou Silvério Regalado, comentando, ainda, que “a câmara não faz mais do que a sua obrigação, ajudando a manter vivas as tradições”. “Vocês levam o nome da nossa terra bem longe”, enfatizou, dirigindo-se aos pescadores presentes na assinatura do protocolo.

Além de poder vir a estender este apoio por mais anos, a edilidade equaciona também voltar a colocar as juntas de bois a puxar as redes de pesca na praia, como acontecia noutros tempos – actualmente, essa operação é feita com recurso a tractores. “Já lançámos o desafio à Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos para que possa adquirir, com o apoio da câmara, dois bois de raça marinhoa”, acrescentou o autarca.

A arte xávega ganha, assim, um novo fôlego nas praias do concelho de Vagos, afastando-se, pelo menos para já, esse cenário negro, admitido por João Valdemar e João da Murtosa, patriarcas das duas companhas de pesca daquele município da região de Aveiro. Às condicionantes do estado do mar, juntam-se, também, os encargos que as companhas têm de assumir e que tornam a actividade cada vez menos rentável. Em Setembro de 2018, na reportagem Aldeias de mar, os pescadores do Novo S. José lamentavam-se de terem passado mais tempo em terra do que no mar e admitiam que a actividade estava em risco.

Praticada em vários pontos da costa portuguesa, de Espinho à Costa da Caparica, esta arte de pesca tradicional de cerco e arrasto pode estar em vias de extinção, uma vez que são cada vez menos os barcos e as companhas a ela dedicados.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários