Pelo menos no Chiado, a CDU ganhou a todos - e tem Vieira no jantar de encerramento

Presidente do Benfica esteve no jantar a convite de um amigo que é militante. No comício de encerramento, no Seixal, Jerónimo de Sousa fez um apelo insistente para que os apoiantes procurem convencer outros até domingo. “Nada está perdido para todo o sempre e nem tudo está ganho para todo o sempre”, avisou.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Numa corrida a CDU conseguiu ganhar à concorrência: na icónica descida do Chiado, a coligação conseguiu juntar mais apoiantes do que o PS, que tinha ali passado uma hora antes.

E pouco depois, no jantar de encerramento da campanha, num hotel de Santa Iria da Azóia (freguesia ribeirinha do concelho de Loures), Jerónimo de Sousa e João Ferreira tiveram o apoio do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira - que esteve no jantar a convite de um amigo que é militante, fez questão de salientar o gabinete de imprensa da CDU. À Lusa, Vieira não quis revelar o sentido de voto, mas lá foi dizendo que o seu será “de esquerda, com certeza”. "Sou bairrista, sou de um bairro popular. Portanto, tire as ilações que quiser”, acrescentou.

Cravos da Celeste para João e Jerónimo

É sempre muito difícil contar pessoas numa arruada, mas no caso dos socialistas, quando a cabeça do desfile, liderado por António Costa e por Pedro Marques, chegou ao fundo da Rua do Carmo, para entrar no Rossio, a cauda do desfile vinha já a mais de um terço do fim. Já a CDU, quando João Ferreira discursava no final da descida do Carmo, os apoiantes e as bandeiras ocupavam toda a rua até ao topo, frente à porta principal dos Armazéns do Chiado.

A rua manteve-se ocupada até que, por volta das 18h45, a massa de apoiantes começou a ser pressionada pelo desfile da Aliança, que foi a última a descer o Chiado.

A descida de Jerónimo e Ferreira foi rápida - cerca de 25 minutos - e muito barulhenta, com uma única paragem para falar aos jornalistas. Quando chegaram ao Largo do Chiado, frente à Brasileira, tinham à sua espera, como de costume, a Celeste dos cravos, como ela gosta de se identificar. Foi a mulher que distribuiu cravos aos militares no 25 de Abril de 1974 - as flores eram para comemorar o primeiro aniversário do restaurante onde trabalhava então - e que sistematicamente oferece ramos de cravos ao líder comunista. Já vai nos 86 anos e diz ao PÚBLICO que o seu desejo é pelo menos ver chegar o meio século da revolução a que ela acabou por, involuntariamente, dar o nome.

A chamada arruada foi mais um desfile, rua abaixo. A iniciativa que todos os partidos insistem em fazer num dia ou noutro, acaba por servir sobretudo para fortalecer a imagem de força de cada um. Não há contacto com os eleitores nem mesmo com os lojistas. Aliás, por ali, eleitores, além de quem desfila, serão decerto muito escassos. Nos passeios quase não se ouve falar português e são muitos os turistas que ficam parados, de telemóvel em punho, a filmar ou fotografar e que interpelam jornalistas e militantes a perguntar que partido é este.

A cábula das palavras de ordem e a bandeira de Portugal

A medir forças, a CDU, de facto, desta vez ganhou. Os apoiantes foram-se juntando no Largo do Chiado mais de uma hora antes das 18h marcadas para o arranque. E começou com apenas quatro minutos de atraso. Nestas coisas, diga-se, a CDU e o PCP poderiam dar muitas lições aos restantes partidos. Um exemplo da organização? O papelinho distribuído por muitos participantes com a lista das “palavras de ordem” para que não haja enganos: “A CDU avança/ com toda a confiança!”, “Vota, vota CDU! Voto eu e votas tu!”, e “O voto acertado é no último quadrado!/ Na foice e no martelo, com o girassol ao lado!”

Na frente da marcha, mesmo antes dos músicos, seguia Alfredo Fernandes. Uns olhos profundos azuis claros, compenetrados, fixos no fim da rua. Ao ombro levava uma comprida cana de pesca onde hasteou uma gigantesca bandeira de Portugal. Aos 91 anos, não é fácil fazer um passeio destes com aquilo nos braços. “Não sou militante, mas vendo a política de hoje, é o partido que está aí mais sério”, argumenta ao PÚBLICO. É a primeira vez que está numa descida do Chiado e traz a bandeira nacional porque “Portugal está à frente de tudo; é o mais importante, é pelo país que devemos sempre lutar”.

No final, a deputada Heloísa Apolónia haveria de salientar o “mar de gente” que ali se juntou. Já João Ferreira e Jerónimo de Sousa insistiram no apelo ao voto, elogiaram o trabalho e as propostas dos deputados e dos candidatos da CDU. O líder do PCP não se cansou de avisar que até domingo é preciso convencer mais gente - que não se espere algo “miraculoso”. “Há ainda muitos indecisos e muitos que pensam em nem sequer ir votar” - e esses são campo fértil em que se deve semear.

Mobilizar até ao fim 

Ao jantar, os discursos foram de revisão da matéria dada - o trabalho comprovado dos eurodeputados da CDU no mandato que agora termina e nas propostas que têm para o próximo; as críticas ao PS e à sua insistente submissão à União Europeia (já para não falar da direita) que se traduzem em políticas prejudiciais ao país nos serviços públicos, nos sectores produtivos, na ligação à banca.

No Seixal, a uma hora do fim da campanha, João Ferreira ainda discursava no largo da igreja - e até o sino, ao bater das onze da noite, foi “de festa pela CDU”, gracejou o candidato à procura de bom augúrio, depois de ter começado por pedir a quem o ouvia que, no domingo, cada um conseguisse convencer a votar na CDU tantas pessoas quantas as badaladas. 

“O tempo não é de balanço, mas para ganhar balanço para as lutas que aí vêm”, afirmou João Ferreira que fez, de facto, um resumo do país real que visitou na campanha, do que propôs, dos problemas que o país enfrenta por causa da acção e das políticas da União Europeia, e dos direitos e rendimentos que a CDU/PCP ajudou a devolver. E quem se revê nestas medidas todas, deve levar até ao voto a expressão desse apoio, pediu o candidato. Porque, salientou, “os partidos não são todos iguais”.

Para Jerónimo de Sousa ficaram as despesas das críticas mais directas aos governos de Costa e de Passos. “Quando a UE dizia mata e o Governo anterior dizia esfola”, recordou o líder comunista; ou o “tempo terrível” de quando entrou o “pacto da troika estrangeira” e da troika nacional de PS, PSD e CDS - os que assinaram por baixo tudo o que foi corte de direitos e rendimentos.

Depois, bom, depois foi possível, “pela luta e pelo voto, afastar o PSD e o CDS das nossas vidas”, e conseguir políticas com a “marca das forças que compõem a CDU” - o PCP e o PEV. Mas é preciso estar atento ao PS - a sua “prática” durante anos levanta dúvidas a Jerónimo de Sousa.

“Nada está perdido para todo o sempre e nem tudo está ganho todo o sempre”, defendeu o líder comunista, lembrando que o mundo “continuará depois do dia 26 (...) Outras batalhas se aproximam. E precisamos de uma força com mais votos.” Os olhos já estão postos na folha de Outubro do calendário.

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