Portugal está “a viver de água que não tem”

Portugal encontra-se “parcialmente em situação de seca, devido a anos pouco chuvosos cujos efeitos são agravados pelas alterações climáticas”. Para ajudar a reverter a situação, a WWF recomenda que sejam tomadas medidas — não só a nível doméstico, mas também a nível político e empresarial.

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ADRIANO MIRANDA (arquivo)

A Associação Natureza Portugal, representante do Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF), alertou esta quarta-feira que o país “está a viver além da água que tem” e apresenta recomendações aos políticos, empresas e cidadãos para inverter a situação.

Num comunicado divulgado esta quarta-feira, por ocasião do Dia Mundial da Biodiversidade, a ANP/WWF recomenda a conservação e reabilitação dos ecossistemas aquáticos saudáveis, o não-financiamento de novos regadios em zonas de escassez e sempre que não se garantam sistemas de uso eficiente da água e pela redução da procura através do aumento de eficiência de utilização nos diferentes sectores.

Sublinhando que Portugal se encontra “parcialmente em situação de seca, devido a anos pouco chuvosos cujos efeitos são agravados pelas alterações climáticas”, as empresas são aconselhadas a participar em projectos e iniciativas de pagamento de serviços dos ecossistemas (nomeadamente fluviais), integrar a gestão da água na sua cadeia de valor, bem como assumir o risco hídrico da actividade e as responsabilidades sobre o uso da água nos planos social e ambiental.

Os cidadãos são aconselhados a reduzir os consumos domésticos em permanência (apostando em equipamentos mais eficientes, utilizações mais curtas da torneira, menor desperdício), a optarem por consumos de reduzida pegada hídrica (na alimentação, no vestuário, no lazer) e a participarem civicamente, de forma activa, denunciando irregularidades na gestão local da água e pressionando as autoridades para a adopção duma gestão preventiva e para o cumprimento dos princípios e objectivos da Directiva-Quadro da Água.

“Cidadãos, empresas, agentes do sector agrícola e Estado devem comprometer-se com o uso sustentável da água, num país que é parcialmente afectado por escassez hídrica e onde se prevê um agravamento desta condição no futuro próximo. A mitigação dos impactos das secas e da escassez hídrica em Portugal combate-se através de medidas responsáveis em toda a cadeia de utilização da água”, afirma na nota Afonso do Ó, especialista em Água e Alimentação na ANP/WWF.

Para o técnico, em Portugal “continuamente se confunde “seca” com “escassez” e as decisões governativas que têm sido tomadas são a prova disso, repetindo ano após ano as mesmas medidas de reacção aos impactos da seca, quando deveriam estar a ser implementadas medidas de prevenção. Para além disso, há um problema estrutural que é necessário abordar em Portugal: o abuso da água na agricultura”.

No contexto mediterrânico em que Portugal se insere tem ocorrido uma sequência de anos pouco chuvosos, resultando numa situação intermitente mas prolongada de seca em grande parte do território nacional, que pode vir a ser desastrosa para pessoas e actividades, dado o actual panorama climático de alargamento da estação seca e aumento global de temperatura, adianta a associação.

Actualmente, em Portugal, a situação de seca verifica-se mais no sul — Alentejo e Algarve — com impactos significativos ao nível da perda de rendimentos nas colheitas de Outono/Inverno e pastagens, dificuldades na alimentação de gado, e uma quebra prevista de 10% na área de cultivo de arroz, explica a ANP/WWF, acrescentando que “algumas das medidas já tomadas para mitigar os efeitos da seca também têm impactos económicos”.

“A água é a base de toda a vida; sem este recurso, não é possível a sobrevivência da biodiversidade que ainda existe no nosso planeta e no nosso país — e por consequência, a nossa própria sobrevivência”, disse Ângela Morgado, directora executiva da ANP

WWF, relembrando que “dados do Relatório Planeta Vivo 2018, da WWF, mostram que as populações de espécies de água doce sofreram o declínio mais acentuado de todos os vertebrados nos últimos 50 anos, caindo em média 83% desde 1970”.

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