Será chuva? Será gente? Sim e a Europa anda na campanha certamente

O candidato socialista promete travar uma “luta muito grande até ao último dia” contra a abstenção. Pedro Marques teve a ajuda de Vieira da Silva que apelou ao voto em quem defende as questões sociais na Europa.

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Pedro Marques (PS) LUSA/MIGUEL A. LOPES

Uma pinga. Nada de mais. Chuva. Não acelera o passo. Um foguete. Nem estremece. Três foguetes. Tudo igual. Um desfile de grupos etnográficos do Minho. Não há problema, espera-se para não se confundir. “Posso dar um beijinho? Não? Não faz mal, boa feira”. Assim segue o candidato socialista às eleições europeias. Imperturbável no seu estilo de campanha, mesmo quando a chuva teima em tentar estragar um dos primeiros contactos com a população da campanha oficial, quando à sua volta tem uma feira ou dezenas de pessoas trajadas preparadas para o cantar típico do Minho. Pedro Marques andou pela rua a combater a abstenção, a condenar extremismos e a ter a ajuda de um ministro para fazer passar as suas ideias sociais.

Parece estranho, mas Pedro Marques nunca apela directamente ao voto no PS. “Há muita gente que não vai votar. Votem no que acharem melhor”, disse a um senhor durante a visita à feira em Fafe. “Votem, por favor, nas eleições. Os jovens têm de votar”, disse a uma rapariga. Aos jovens conta muitas vezes a história do “Brexit” para de lá tirar uma lição: “É muito importante não deixar a escolha para os outros”.

A escolha fica para a hora em que os eleitores forem colocar a cruz no papel, até lá a luta do socialista é contra a abstenção. “Seguimos firmes e a fazer uma luta grande até ao último dia. É importante levar gente a votar. Vamos votar e levem muitos a votar”, diz, antes de encontrar uma senhora que não quis ser cumprimentada. Nada que o perturbe, até porque a maioria lhe sorri: “Vamos ganhar e bem” grita a um microfone de feira que lhe é estendido. Desta vez não se fez rogado e aproveitou o momento que dará imagens nas televisões.

Esta postura só é possível a quem vai na frente das sondagens, sem pressão, sem grandes problemas aparentes, mas porque não pedir o voto directo no PS? É por achar que está ganho? À pergunta do PÚBLICO Pedro Marques responde com a frase que tem repetido à exaustão por estes dias: “Estou a apelar às pessoas para votarem. Está a ver o que está ali”, pergunta enquanto aponta para um panfleto que vai distribuindo às pessoas. “É informação” sobre a candidatura.

No dito folheto estão resumidas quatro ideias para a Europa que saíram do seu manifesto eleitoral. “Um novo contrato social para a Europa”, que lhe daria o mote para o debate na freguesia de Brito, em Guimarães durante a tarde; “uma nova agenda social”, é o segundo ponto; “uma agenda para o crescimento e o emprego”, como terceiro pilar; e, por fim, “uma agenda para a inovação e sustentabilidade”.

Por estes dias tem referido os vários assuntos europeus nos discursos ou na conversa com os jornalistas. No início da semana, focou-se nos fundos europeus e no seu papel ou “património” neste aspecto, mostrando que fez “diferente” da direita que cortou fundos. Ele reprogramou e acabou por conseguir, repete, mais cinco mil milhões de euros para o país. Na quarta-feira à noite dedicou-se a falar sobre o combate às alterações climáticas, na necessidade de ser mais eficiente energeticamente e em como se deve combater o uso abusivo de plástico.

Já esta quinta-feira, virou a agulha para os assuntos sociais. Para isso teve a ajuda na campanha do ministro do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, que apareceu pela segunda vez junto à caravana para elogiar o pupilo “de ar sempre sério”, disse, mas que tem “a enorme capacidade de não desistir. Mas de persistir”, elogiou.

Vieira da Silva foi a Brito, Guimarães, referir que o debate sobre as questões sociais é importante na Europa que se tem dedicado sobretudo a “questões financeiras”. “É preciso reforçar aqueles que no Parlamento Europeu podem também eles dar mais força às opões sociais e equilibrá-las numa política muitas vezes dominada por outras preocupações”. “Precisamos de uma força que alargue este caminho, que alargue a Europa verdadeiramente social, em que ninguém fique para trás”, referiu.

Esse é o papel do PS, que dá prioridade a assuntos como o combate à pobreza infantil, o combate à “diferença de salário entre mulheres e homens” ou a garantir que todos os trabalhadores “têm acesso à protecção social”. “Não mandamos na Europa, mas contribuímos”, sintetizou.

"Não normalizamos a extrema-direita"

Durante a tarde, Pedro Marques ouviu um conselho: “Evitem dar troco” aos opositores. E assim fez. Durante o dia nunca se referiu aos adversários directos nestas eleições, mas acabou por responder sobre o possível crescimento dos partidos de extrema-direita na Europa.

O candidato considera que desde que dentro das regras constitucionais estes partidos não devem ser proibidos de concorrer a eleições, mas espera que não haja a subida de “extremismos ao poder”. “No meu país, a extrema-direita eu não a quero. Há linhas vermelhas que eu não quero que cheguem a ser uma realidade”.

Contudo, o perigo espreita e a postura do PS, disse, é a de não ajudar: “No PS, não normalizamos a extrema-direita, não fazemos coligações com a extrema-direita, não fazemos acordos políticos com a extrema-direita como fez a direita europeia mais do que uma vez já, agora aqui ao pé com o Vox na Andaluzia”, referiu. Esta era uma crítica indirecta a Nuno Melo que chegou a considerar que os espanhóis do Vox não podem ser considerados de extrema-direita.

Por extremismos, Marques considera todos aqueles “que pugnam pela xenofobia, que pugnam até pelo racismo, têm mensagem de exclusão e misoginia”. Quando questionado sobre o facto de na família política europeia haver partidos que têm mensagens semelhantes, Pedro Marques respondeu: “É uma linha vermelha para todos. O cumprimento do estado direito democrático é para todos”, disse.

A presença de partidos que chocam com direitos humanos tem sido um assunto no Partido Socialista Europeu (PES). Ainda em Dezembro, no congresso do PES, a eurodeputada Ana Gomes indignou-se por o congresso ter dado a palavra ao primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat.

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