Ciclone Kenneth chegou a Moçambique e já provoca estragos

As autoridades moçambicanas anunciaram ter evacuado as zonas de risco de cheias desde a activação do alerta vermelho, na quarta-feira. Cerca de 30 mil pessoas foram transferidas para centros de acolhimento.

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Reuters/NASA

Alguns distritos do Norte de Moçambique estão a ser atingidos por ventos muitos fortes e chuva intensa desde o princípio da noite desta quinta-feira com a chegada ao continente do ciclone Kenneth, descreveram residentes à Lusa.

Os ciclones tropicais formam-se no mar e este foi o primeiro a chegar ao Norte de Moçambique desde que há registos (há 60 anos), sendo que o ano de 2019 fica na história como o primeiro em que o país foi atingido por dois ciclones de categoria dois ou superior na mesma época chuvosa. Em Março, o ciclone Idai atingiu o território classificado com categoria três, e prevê-se agora que este possa ter a mesma classificação.

Um morador na vila de Macomia, sede de distrito no caminho previsto do ciclone Kenneth pela província de Cabo Delgado, descreveu ao princípio da noite a situação como “caótica”, tendo em conta a velocidade do vento e a intensidade da chuva, referiu em contacto telefónico com a Lusa.

O vento e a chuva “estão a aumentar, a ficar mais fortes”, descreve a fonte, relatando ainda que não há energia. A noite caiu e os moradores estão fechados em casa, sem ninguém nas ruas, acrescenta, prevendo que só quando o dia raiar, pelas 5h (4h em Lisboa), se consiga fazer uma avaliação dos estragos.

Um outro residente em Macomia disse que, ainda antes de anoitecer, já havia árvores caídas e estragos nalguns edifícios públicos e em casas, de construção precária, em que as chapas de zinco são habitualmente os primeiros pedaços a voar durante intempéries.

Residentes dizem ter ouvido relatos do mesmo tipo de estragos por moradores nas zonas costeiras limítrofes a Macomia e nas ilhas Quirimbas.

Ao princípio da noite, a situação era relativamente calma em Mocímboa da Praia e Palma, a norte do corredor de passagem prevista do ciclone, assim como na capital provincial, Pemba, a sul do trajecto previsto, disseram várias fontes contactadas pela Lusa.

Só a dimensão a que estava a chegar a ondulação impressionava alguns residentes na capital de Cabo Delgado, que relataram estragos no clube naval da cidade.

Zonas de risco evacuadas

Estima-se que o centro do ciclone Kenneth tenha atingido o continente pelas 18h (17h em Lisboa), ou seja, já durante a noite, com a classificação de categoria dois ou três (numa escala de um a cindo, do mais fraco ao mais forte), segundo o Centro Comum de Investigação (JRC, sigla inglesa) da União Europeia (UE), num mapa divulgado pelo Programa Alimentar Mundial (PAM).

A agência de meteorologia francesa Meteo France estima que, antes de chegar a terra, o ciclone tenha atingido rajadas de 285 quilómetros por hora.

Prevê-se que a intempérie diminua de intensidade no continente, logo depois de deixar de ser alimentada pelas águas quentes do oceano Índico, mas que, ainda assim, produza elevada precipitação, suficiente para causar cheias repentinas que podem ser violentas nalguns locais.

As autoridades moçambicanas anunciaram ter evacuado as zonas de risco de cheias desde a activação do alerta vermelho, na quarta-feira, transferindo cerca de 30 mil pessoas para mais de 30 centros de acolhimento, a maioria instalados em escolas.

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