A guerra foi o que tivemos em vez de uma infância feliz (parte II)

O medo ganha terreno, vivemos acossados pela ameaça de um futuro que não nos sorri. Temos de aprender quanto antes a fraternidade. Houve quem dissesse que a Grande Guerra era a guerra para acabar com todas as guerras. Se deixarmos que chegue outra, será a guerra para acabar com o nosso mundo. Última de uma série de crónicas sobre a Guerra das Guerras.

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“Nas trincheiras vivia-se na mais absoluta imundície. Os homens estavam cobertos de percevejos, não tinham um momento de descanso. Recolhi o depoimento de uma mulher que, na infância, passou a Grande Guerra com a família em zona ocupada, numa terra chamada Crépy-en-Valois. Os alemães ocuparam todo o território a norte do Aisne durante a maior parte da guerra. Ela tinha nove, dez anos, mas aquele tempo marcou-a muito. Contou-me que, quando as tropas alemãs chegavam à retaguarda, vindas das trincheiras, e entravam na povoação, as mães vinham a correr arrebanhar os filhos, chamavam-nos aos gritos e levavam-nos todos para dentro de casa. Uma vez, ela ficou para trás e viu. Os homens pareciam animais, cobertos de sujidade, de vérmina. Despiam-se ali mesmo, em plena rua, tal o desespero, e metiam-se, todos nus, dentro dos bebedouros das bestas, dentro dos chafarizes. Um espectáculo degradante, de meter medo. A mãe chamou-a, levou-a para dentro a correr, fechou as portadas das janelas. Ela nunca mais se esqueceu.”

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