Vão-se embora!

Veja-se o passe que custa um máximo de 40 euros. O que é isto senão uma manobra para dispersar pessoas que moram nas grandes cidades libertando mais alojamento para os turistas?

Ganha-se muito em ver as decisões governativas como medidas para fomentar o turismo.

Veja-se o passe que custa um máximo de 40 euros. O que é isto senão uma manobra para dispersar pessoas que moram nas grandes cidades libertando mais alojamento para os turistas?

A partir de agora quem trabalha em Lisboa e nas outras grandes cidades pode ir morar para ainda mais longe, pagando rendas mais baratas, que não paga mais de 40 euros por causa disso.

Gasta mais tempo por isso? O tempo também é dinheiro? O tempo também faz parte da qualidade de vida? Sim, sim e sim – mas com o tempo dos portugueses podem os contabilistas governamentais bem. Gastam-no à fartazana sem pensar mais nisso.

Já os turistas, coitados, não podem esperar nos aeroportos. Porquê? Portugal não é um paraíso, com preços irrisórios e habitantes simpáticos, todos com um inglês estupendo?

Mas nós portugueses – não. Nós somos um povo habituado a esperar. O que nós devemos fazer é esperar e calar, agradecendo sempre a oportunidade de sermos atendidos, de chegar ao trabalho e de voltar para casa.

O passe é um incentivo a ir morar para o mais longe possível, para uma terra onde ainda não custe os olhos da cara viver, para uma terra que as pessoas mais privilegiadas não conheçam nem sejam obrigadas a ver.

Fez-se um pacto com o diabo: os centros das cidades são para os turistas (que também podem ser portugueses se pagarem o que custa e não se demorarem mais de uma semana) e o que resta fica para os portugueses que podem ir morar (e morrer) longe.

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