Proposta do PEV pretende acabar com as “letras miudinhas” nos contratos

Partido entregou proposta no Parlamento para definir tamanhos mínimos da letra usada nos contratos, evitando que os consumidores assinem acordos que não leram na íntegra.

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Heloísa Apolónia, deputada do PEV Enric Vives-Rubio

O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) quer acabar com as “letras miudinhas” em todo o tipo de contratos e vai propor que a letra usada nos textos contratuais passe a ter um tamanho e um espaçamento mínimos. Num projecto-lei entregue no Parlamento, na passada sexta-feira, o PEV propõe que passem a ser “proibidas as cláusulas contratuais” que se encontrem “redigidas em letra inferior a tamanho 11 ou a 2,5 milímetros e com um espaçamento entre as linhas inferior a 1,15”.

“As letras minúsculas dos contratos podem fazer com que algumas condições passem despercebidas" aos consumidores, aponta o partido, acrescentando que isso, pode levar a adesões a contratos “de forma menos informada e consciente do que se deseja e do que deve ser uma [boa] prática” das empresas, para além de as cláusulas não serem “perceptíveis e legíveis na íntegra”. Tudo isso pode representar “consequências gravíssimas do ponto de vista financeiro para os cidadãos”, refere o preâmbulo do diploma.

“Os Verdes” acentuam que os negócios se formam e se executam hoje a “um ritmo incompatível com um esquema negocial que faculte aos intervenientes um consciente exercício das suas liberdades de celebração”, podendo “provocar a erosão dos esquemas negociais, já que distorce as referidas liberdades” dos consumidores.

“Como facilmente se percebe, hoje em dia todos os cidadãos acabam por estar susceptíveis ou mesmo obrigados a aderir a contratos nestes termos, circunstância que é agravada quando falamos de população mais idosa e mais frágil que estará mais permeável às ‘letras miudinhas’ dos contratos”, é ainda referido no preâmbulo do projecto-lei.

O documento lembra também que, muitas vezes, só depois de assinarem os contratos é que as pessoas se apercebem que aceitaram cláusulas que não leram antes e que estão associadas a períodos de fidelização ou a critérios de rescisão.

O PEV reconhece que já existem na legislação portuguesa medidas que procuram salvaguardar alguns dos aspectos relacionados com os contratos de adesão e enuncia mesmo o caso dos seguros, em que a lei em vigor já obriga a que sejam redigidos em “caracteres bem legíveis” e com “palavras e expressões da linguagem corrente”.

Ainda assim, acentua, a realidade mostra que nem sempre estas normas são escrupulosamente cumpridas e que dão margem para diferentes interpretações, deixando campo para que seja possível continuar a assistir-se à realização de contratos de adesão com informações “redigidas com um tamanho de letra minúsculo, impossível de ler”.

O objectivo deste projecto é, assim, “contribuir para uma protecção e informação adequadas por parte dos cidadãos, eliminando o obstáculo das letras reduzidas que dificultam a celebração de um contrato de forma consciente e informada, e evitando a possibilidade de existirem divergências entre a vontade real e a vontade declarada através do contrato, originadas por um documento pouco claro ou pouco legível.

O PEV refere também que há países que já legislaram no sentido de acabar com o problema das “letras miudinhas”, indicando os casos do Brasil e de Espanha, que seguiu, nesta matéria, recomendações do Parlamento Europeu.

No Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, que se assinalou a 15 de Março, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) anunciou ter revisto todos os contratos de adesão propostos pelos comercializadores de electricidade, tendo defendido, entre outras medidas, aumento do tamanho da letra utilizada.

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