O grande salto em frente do Kosovo

Cinco anos depois de ter feito o seu primeiro jogo oficial, a selecção balcânica está mais perto do que parece do Euro 2020 e já não perde um jogo desde 2017.

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Arber Zeneli, a "estrela" da primeira geração de futebolistas kosovares REUTERS/Florion Goga

O Kosovo, como nação futebolística independente, começou quase do zero. Não tinha um estádio para jogar em casa, não tinha uma estrutura de futebol montada e não tinha jogadores para formar uma selecção. Depois de se autonomizar da Sérvia em 2008, foi autorizado a fazer o seu primeiro jogo oficial (particular) em 2014, foi admitido como o 55.º membro da UEFA em 2015 e, em 2016, a FIFA admitiu-o como o seu 210.º membro. Em 2019, o Kosovo é um pequeno país a mostrar grande futebol, já não perde um jogo há ano e meio e está mais perto do que parece de se qualificar para a fase final do próximo Europeu.

Apesar de ainda só ter feito um jogo de qualificação para o Euro 2020, o Kosovo está a apenas dois jogos de lá chegar, tudo por causa da excelente participação que teve na Liga das Nações, onde ganharam o seu grupo sem perder qualquer jogo (quatro vitórias e dois empates) e a mostrar grande apetência ofensiva – um total de 15 golos marcados, incluindo goleadas por 4-0 ao Azerbaijão e 5-0 a Malta. Para além da promoção à Liga C, o Kosovo garantiu uma presença nos play-off da Liga das Nações que funciona, em simultâneo, como play-off de apuramento para o Euro. Se ganharem à Macedónia e, depois derrotarem o vencedor embate entre Geórgia e Bielorrússia, chegam ao Euro.

Este é o atalho. O caminho mais longo e mais difícil é o de tentar um dos dois primeiros lugares num grupo que tem a Inglaterra como o favorito maior. Mas, tendo em conta o resto do agrupamento (Bulgária, República Checa e Montenegro), não é um disparate total pensar que uma das vagas pode ir para o Kosovo, uma selecção que já não perde um jogo desde Outubro de 2017. Desde então, disputou 12 jogos, com oito vitórias e quatro empates, incluindo alguns resultados bem interessantes, como o empate (2-2) com a Dinamarca (que só conseguiu nivelar o resultado nos descontos), a vitória (3-0) frente à Albânia, ou o empate (1-1) com a Bulgária na abertura da qualificação para o Euro.

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Kosovo celebra o golo do empate frente à Bulgária REUTERS/Florion Goga

O Kosovo é, nitidamente, uma selecção que vale muito mais do que o seu ranking FIFA (130.º), nunca tendo chegado verdadeiramente a ser uma selecção “saco de pancada”, como continuam a ser equipas como o Liechtenstein, Malta ou São Marino. E isto aconteceu porque foi à procura de uma selecção fora do seu pequeno território e para lá da curta população que lá vive. Foi na diáspora kosovar-albanesa que encontrou jogadores com Arber Zeneli, talvez a primeira grande “estrela” do Kosovo futebolisticamente independente, um médio ofensivo nascido na Suécia e que joga no francês Stade de Reims, e que, em 17 internacionalizações, já marcou sete golos.

A história de Zeneli é igual à de muitos jogadores que jogam pelo Kosovo. Os pais fugiram do país anteriormente conhecido como Jugoslávia em 1991 com destino à Suécia e fixaram-se em Sater, uma pequena localidade a cerca de 200 quilómetros de Estocolmo. Arber nasceu em 1995 e rapidamente adoptou o futebol, cumprindo a formação e os primeiros anos como profissional no Elfsborg, ao mesmo tempo que ia marcando presença nas selecções jovens da Suécia – este na selecção que venceu o Euro sub-19 em 2015, nunca final contra Portugal decidida nos penáltis.

Nascido e criado na Suécia, Zeneli não teve dúvidas na hora de escolher em 2016 a sua pátria futebolística e já foi várias vezes o herói, marcando dois dos três golos na vitória sobre a Albânia, um “hat-trick” frente ao Azerbaijão e o golo do empate frente aos Búlgaros, em Pristina. Como ele, jogadores como o guarda-redes Arijanet Muric (nascido na Suíça, jogador do Manchester City), ou médio Valon Berisha (nascido na Suécia, internacional pela Noruega e jogador da Lazio) escolheram associar as suas carreiras internacionais a uma selecção jovem de um país jovem.

Foi esta a estratégia seguida desde o início, com Albert Bunjaki, o primeiro seleccionador, e que foi elevada a outro patamar com o seu sucessor, veterano suíço Bernard Challandes, que tem andado pela Europa, às suas próprias custas, para fazer o recrutamento juntos dos jogadores e das famílias. A ideia é: quanto mais cedo os “apanhar”, melhor. Na órbita do Kosovo estão, por exemplo, Meritan Shabani (Alemanha/Bayern Munique), Labinot Kabashi (Finlândia/Barcelona) ou Cendrim Kameraj (Suíça/Juventus), jogadores que se podem juntar a Zeneli, Berisha e outros no Euro 2020, que será espalhado por toda a Europa, tal como as origens desta selecção kosovar. “Podemos sonhar”, admitia Challandes citado pela ESPN. “Na minha cabeça, temos de sonhar. Sempre disse que tudo o que é bom começa com um sonho. Assim sendo, porque não?”

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