Quénia com alguma magia portuguesa

Lima, Melo Gouveia e Figueiredo tiveram reencontro feliz no Magical Kenya Open

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Filipe Lima, Pedro Figueiredo e Ricardo Melo Gouveia juntos em Nairobi © D.R.

O Magical Kenya Open produziu magia para o golfe português pois é provável que tenha sido a primeira vez que três portugueses passaram simultaneamente o cut num torneio do European Tour fora de Portugal. 

Um recorde nacional que carece de confirmação oficial, dado o European Tour não ter estes registos, mas que, de acordo com os arquivos da PGA de Portugal – naturalmente, mais falíveis – será um marco na história do nosso golfe. 

Filipe Lima terminou a prova de 1,1 milhões de euros em prémios monetários no grupo dos 25.º classificados, enquanto Ricardo Melo Gouveia e Pedro Figueiredo integraram o grupo dos 35.º. 

Para quem goste de futebol, talvez valha a pena fazer-se um parêntesis e saber que Figueiredo é atleta do Sport Lisboa e Benfica, Melo Gouveia é simpatizante do Sporting Clube de Portugal e Lima é adepto e amigo pessoal de alguns dirigentes do Futebol Clube do Porto. 

Mas voltando ao recorde nacional, claro que estamos muito longe dos sete portugueses que passaram o cut no Open de Portugal de 2018 (então, torneio do Challenge Tour), mas fora de Portugal, em torneios do European Tour em que todos entraram por direito próprio sem necessitarem de convites, é um feito. 

«É um ponto interessante, não tenho a certeza se é a primeira vez ou não, mas é capaz de ser, porque estive a reavivar a memória e quando o Ricardo Santos jogava no European Tour coincidiu apenas com o Filipe Lima. Depois, quando o Ricardo Santos saiu entrou o Ricardo Melo Gouveia que também só coincidiu com o Lima. E este ano entrei eu no European Tour com o Ricardo Melo Gouveia, portanto, se não foi a primeira, foi das únicas vezes em que aconteceu», comentou Pedro Figueiredo à Tee Times Golf, em exclusivo para Record. 

"Figgy" totalizou 281 pancadas, 3 abaixo do Par do Karen Country Club, em Nairobi, após voltas de 68, 71 e 70. A sua memória está correta. Foram raros os torneios do European Tour em que Filipe Lima, Ricardo Santos e Ricardo Melo Gouveia estiveram juntos e nunca os três passaram simultaneamente o cut

«Isto é um crescimento. Quando havia um português apareciam dois e agora que há dois aparecem três. E se conseguirmos três depois irá aparecer um quarto. Temos de puxar o nível para termos cada vez mais e chegarmos perto de países como por exemplo a Suécia e a França, cada qual com uma dezena de jogadores. É esse o objetivo e agradeço o carinho que o Pedro e o Ricardo têm por mim, pois vi-os a puxarem por mim para eu voltar», acrescentou Filipe Lima, que irá sobretudo jogar no Challenge Tour em 2019, mas que de vez em conseguirá entrar em etapas do European Tour. 

Filipe Lima regressou à competição neste Open do Quénia, após uma paragem de três meses, com boas exibições, como pode ver-se pelas três últimas voltas de 68, 70 e 66. Pena a primeira de 75, para um agregado final de 279 (-5). 

O português residente em França apreciou renovar o contacto com os seus compatriotas, algo raro, dado Ricardo Melo Gouveia viver em Inglaterra e Pedro Figueiredo em Portugal. 

«Estive bastante com o Ricardo, costumo viajar e dividir o quarto com ele. Com o Lima almoçámos um par de vezes. Foi bom termos estado os três juntos e termos conseguido passar o cut», afirmou Figueiredo. 

«É sempre um prazer estar com os ‘Tugas’. Gosto muito do Pedro e do Ricardo, e dão-me ainda mais motivação para voltar ao European Tour o mais rapidamente possível, para termos três portugueses no European Tour», corroborou Lima. 

Lima e Melo Gouveia já jogaram juntos em seleções nacionais na Taça do Mundo, no GolfSixes e nos Jogos Olímpicos. No Quénia tiveram algo mais em comum: ambos estrearam-se em competição com uma nova equipa técnica. 

O caso mais inesperado foi o de Ricardo Melo Gouveia, que deixou o britânico Hugh Marr e passou a trabalhar com o português David Silva, o ex-presidente da PGA de Portugal, que há vários anos trabalha com o finlandês Kim Koivu, levando-o a subir no ano passado do Challenge Tour ao European Tour. E Koivu não tem estado a dar-se nada mal no seu ano de estreia no circuito principal, ocupando o 91.º lugar da Corrida para o Dubai, com nove cuts passados em 12 torneios disputados. 

«Decidi terminar a relação de jogador/treinador com o Hugh Marr pois as coisas não estavam a dar resultado. A decisão de começar a ser treinado pelo David foi fácil pois já o conheço desde miúdo, sei que ele tem acompanhado a minha carreira e é uma pessoa que vive para o golfe, para além da experiência que tem», informou-nos o atleta olímpico português. 

Ricardo Melo Gouveia totalizou 281 pancadas, 3 abaixo do Par, colecionando voltas de 74, 66, 72 e 69. A volta de 66 foi o seu melhor resultado desde o primeiro torneio do ano, ainda em novembro, quando foi 20.º (-5) em Hong Kong. 

O profissional da Quinta do Lago travou, assim, uma série de quatro cuts falhados no European Tour, mas nas últimas semanas já tinha dado conta de estar a jogar melhor. Simplesmente, os resultados ainda não refletiam a sua melhoria de jogo, depois de uma longa paragem por lesão. 

«Sim, já desde Omã que estava a sentir que os bons resultados estavam perto e seria uma questão de paciência», frisou o jogador de 27 anos que ganhou um prémio de 7.260 euros e registou uma boa subida na Corrida para o Dubai de 170.º para 157.º. Já no ranking mundial, desceu 4 posições para 467.º. 

Só Filipe Lima somou pontos para o ranking mundial, 1,22 pontos, que lhe permitiram subir 9 posições para 377.º, mantendo-se como o melhor português. Na Corrida para o Dubai, onde apareceu pela primeira vez, o atleta olímpico é o 221.º, depois de embolsar um prémio de 10.615 euros e 19,5 pontos para o ranking europeu. 

Foi o primeiro torneio de Filipe Lima desde o Open da África do Sul na primeira semana de janeiro. «Não tinha torneios para jogar. Poderia ter ido jogar alguns do European Tour na Austrália mas preferi investir numa preparação mais intensa, com uma alteração de treinador técnico, fisioterapeuta e também estou a trabalhar com um novo psicólogo. Tenho trabalhado com eles nestes últimos três meses», explicou Lima, que não sabia bem o que esperar do seu jogo. 

«Depois de três meses parado nunca se sabe o que vai sair quando se vai par ao campo. O treino sei que foi bom e tive a prova com o resultado que fiz, à exceção da primeira volta, que foi um acidente porque fiz 1 triplo-bogey num Par-5. Estava com 2 pancadas à beirinha da bandeira e depois fiz 4 chips porque estava num lie muito mau no rough e a bola não queria sair. Mas fora isso foi muito bom e quer dizer que o trabalho com a minha equipa foi bom», explicou, ele que foi o 13.º (entre 144 jogadores) na estatística de greens em regulação (66,7%). 

O português de 37 anos deverá regressar agora ao Challenge Tour e procurar subir de novo à divisão principal do golfe europeu, algo que já conseguiu fazer por quatro vezes na sua carreira. 

«Este ano irei jogar muito no Challenge Tour. Apetecia-me jogar alguns torneios do European Tour, mas como o Challenge Tour tem este ano menos torneios e alguns mais pequenos, vai ser preciso jogar mais torneios desse circuito e concentrar-me mais nele. Vou jogar à Jordânia (começa dia 4 de abril), mesmo sabendo que não dá pontos para a classificação, mas ajuda-me em termos de dinheiro e depois a época vai começar mesmo a sério em finais de abril (na Turquia). 

Filipe Lima ficou agradado com o que viu no Quénia, torneio que conhece muito bem: «Achei o torneio do Quénia muito bom em tudo, desde a preparação do campo, o campo está fantástico com os greens muito bons, mas já no ano passado no Challenge foi muito bom e já tinha 500 mil euros em prémios. Tirando os prémios que dobraram, não houve muita diferença com o torneio deste ano». 

Pedro Figueiredo ficou com a mesma impressão: «Não foi muito diferente de anos anteriores quando era torneio do Challenge Tour. A maior diferença talvez tenha sido a adesão do público, este ano com mais público». 

O jogador da Navigator está de novo consistente. Passou o seu quinto cut da época, designadamente os três últimos, embolsou o seu segundo prémio monetário mais elevado da época, de 7.260 euros, na Corrida para o Dubai melhorou de 161.º para 145.º e só no ranking mundial desceu 11 posições para a 438.ª. 

«Foi um torneio regular da minha parte. Não joguei por aí além, mas não joguei mal. A lista de jogadores teve um nível relativamente mais fraco em relação a outros que tenho jogado, porque muitos jogadores do European Tour optaram por não ir ao Quénia, foi um torneio metade European e metade Challenge Tour. Tive uma classificação média, poderia ter feito melhor, mas também senti que o meu jogo não esteve a 100 por cento», analisou o português de 27 anos, que brilhou na estatística de precisão de drive, onde foi o 3.º melhor jogador (58.9%). 

Pedro Figueiredo tem razão, o Open do Quénia não foi dos torneios mais fortes do European Tour de 2019, mas é bom vê-lo de volta na alta-roda do circuito europeu. A prova foi fundada em 1967, ainda antes de haver European Tour. Chegou a integrar a primeira divisão europeia até 1990, mas foi um evento do Challenge Tour entre 1991 e 2018. 

É mais um caso de um Open nacional que viaja entre os dois principais circuitos europeus – como sucedeu com os Opens da Áustria e de Portugal, entre outros, sem grandes dramas, de acordo com as possibilidades conjunturais dos respetivos países e promotores. 

O Karen Country Club, em Nairobi, estreou-se enquanto palco do European Tour, mas o campo já tinha recebido este evento entre 2013 e 2016, daí já ser conhecido dos jogadores portugueses. 

O vencedor deste Magical Kenya Open foi o italiano Guido Migliozzi com 268 pancadas, 16 abaixo do Par, após voltas de 67, 68, 64 e 69. Arrecadou o prémio mais elevado da sua carreira, de 183.330 euros e subiu de 218.º para 28.º na Corrida para o Dubai. 

O italiano de 22 anos bateu por 1 única pancada um trio de 2.º classificados, constituído pelo espanhol Adri Arnaus (66+68+65+70) e os sul-africanos Louis de Jager (66+66+70+69) e Justin Harding (70+65+68+66). 

Foi o primeiro título do European Tour de Guido Migliozzi, que já contava na sua carreira com três vitórias no Alps Tour Golf, a terceira divisão europeia. Uma ascensão meteórica de um talentoso jogador que só acedeu à primeira divisão no final da época passada, através da Escola de Qualificação. 

Guido Migliozzi tem a sua carreira gerida pela empresa Modest Golf, igualmente a entidade promotora deste Open do Quénia, que tem a curiosidade de ter como principal acionista Niall Horan, o famoso músico da banda One Direction. É um fanático de golfe, modalidade que pratica, é um grande amigo do campeão olímpico Justin Rose e agora está a investir no golfe. 

«Começámos esta relação profissional há três anos e este momento é muito importante para todos nós», disse o jogador italiano que não se esqueceu de agradecer a um amigo e compatriota, Lorenzo Gagli, o vencedor do Open do Quénia em 2018: «Um dos meus tacos partiu-se (o ferro-2) e o Lorenzo deu-me o dele. Usei-o em quase todas as saídas e foi a chave da vitória. Obrigado Lorenzo». 

Guido Migliozzi continua a série impressionante de antigos vencedores do Campeonato Internacional Amador Masculino de Portugal que têm estado a sair-se muito bem em circuitos profissionais em 2019. 

O italiano venceu no Montado Hotel & Golf Resort em Palmela em 2016. No ano seguinte, em 2017, foi o finlandês Sami Välimäki a triunfar em Portugal e este ano impôs-se no Open Casa Green Golf (em fevereiro), do Pro Golf Tour. No mesmo circuito e já em março, foi o alemão Moritz Lampert a triunfar no Open Madaef Golf, depois de ter sido o melhor em Portugal em 2012. E no mesmo dia em que Migliozzi festejava em Nairobi, o inglês Dale Whitnell (campeão amador em Portugal em 2009) celebrava em Troia o sucesso no The Tour Championship do Portugal Pro Golf Tour.

 

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