Associação quer nome de Salgueiro Maia para antigo Hospital de Belém

Foi naquela unidade que o capitão de Abril viveu os últimos dias. Os seus camaradas pretendem render mais uma homenagem ao seu exemplo.

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Mural de Miguel Januário, Frederico Draw, Diogo Machado e Gonçalo Ribeiro, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa RG Rui Gaudencio

A recém-criada Associação Salgueiro Maia evoca este sábado, num almoço em Marvila, Lisboa, o movimento militar do 16 de Março de 1974, que antecedeu em cinco semanas a Revolução dos Cravos. Um dos objectivos dos associados é que o nome do capitão que comandou a coluna da Escola Prática de Cavalaria de Santarém e a quem se rendeu no 25 de Abril Marcello Caetano, no quartel-general da GNR, no Largo do Carmo, seja atribuído ao antigo hospital militar de Belém, na Ajuda, cuja cedência à Câmara de Lisboa pelo Ministério da Defesa ​foi divulgada em finais de Fevereiro.

“A Associação nasceu em Outubro de 2018 na luta por um problema concreto, a reversibilidade dos hospitais da Estrela e de Belém”, disse, ao PÚBLICO, o coronel Andrade da Silva, membro daquela entidade. Perdida a luta pelo primeiro hospital, que finalmente é transformado numa Unidade de Cuidados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, aquele oficial revelou que o anúncio de que os antigos combatentes vão ter acesso privilegiado na Unidade de Cuidados Continuados que irá funcionar na Ajuda é uma vitória, pois é a primeira vez que os militares ganham direitos especiais num processo de alienação de património. “Queremos que se venha a chamar Hospital Salgueiro Maia, porque foi ali que o capitão viveu os seus últimos dias”, explica.

A seguinte iniciativa da Associação, que para já vai funcionar num espaço da Câmara de Santarém, é uma romagem, a 3 de Abril, data do falecimento de Salgueiro Maia, ao cemitério de Castelo de Vide, a sua terra natal, onde se encontra sepultado em campa rasa desde 1992, por vontade assumida no seu testamento. O que, recorda-se, travou o apelo lançado pelo presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, e por Manuel Alegre, para a trasladação dos restos mortais de Salgueiro Maia para o Panteão Nacional.

No almoço deste sábado é evocada o denominado “golpe das Caldas”, quando uma coluna militar daquela cidade avançou, a 16 de Março de 1974, sobre Lisboa para derrubar o regime de Caetano. A sua marcha foi travada pelas tropas fiéis à ditadura e os oficiais envolvidos, conotados com o general António de Spínola, foram detidos.

“Somos todos capitães”, é a divisa que a Associação foi buscar a uma frase do capitão Salgueiro Maia num dos momentos mais dramáticos do seu confronto com o brigadeiro Junqueira dos Reis, que, à frente de uma coluna de blindados de Cavalaria 7, tentou travar o passo aos revoltosos a 25 de Abril. “Queremos revelar as qualidades de Salgueiro Maia e o seu exemplo na Rua Ribeira das Naus”, destaca o coronel Andrade da Silva.

Na coluna de Salgueiro Maia seguia o jovem cadete Sousa Mendes, então com 21 anos, que só tarde se apercebeu da ironia que os acontecimentos lhe reservaram. Um ajuste de contas com a história: “O regime que tinha perseguido o meu avô estava caduco, senti-me satisfeito e com um certo orgulho por tomar parte no seu derrube às ordens de um grande homem”, afirmou, em Março de 2014, no lançamento do livro Os Rapazes dos Tanques, de Alfredo Cunha e Adelino Gomes. O cadete é neto de Aristides Sousa Mendes, cônsul em Bordéus que, desobedecendo às ordens de Salazar, ajudou milhares de judeus a sair de França para Portugal e, assim, a fugir ao Holocausto.

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