Não tem cura o Celito – sem decoro

Passa pela cabeça de alguém em seu tino que as populações do Lubango e da Huíla esperavam pelo redentor e que, por um impulso irresistível, saltassem para as ruas, faltando aos empregos e às suas canseiras diárias para ir aclamar o magnânimo distribuidor de afetos, o homem que anda dez quilómetros pendurado no estribo do carro blindado?

Marcelo foi a Angola. Ainda em Portugal por via dos media que o incensam começou a anunciar-se a ideia que Celito iria dar espetáculo pelas cidades onde passasse.

Mal chegou foi ver o carnaval mais para ser visto do que para ver. Ele só olha se o veem; os olhos nele são para ver quem o vê.

É do conhecimento geral que em Angola as populações de Huíla, Lobito, Benguela e do longínquo Lubango sonham desde pequeninas ver o Presidente de Portugal. Aliás, os jornalistas que o acompanham, estudiosos da idiossincrasia dos povos umbundos, já sabiam que as populações esperavam há muito pelo Messias de Portugal.

Nenhum jornalista tinha possibilidade de alcançar que aquelas multidões eram tão espontâneas como as bandeirinhas portuguesas que os manifestantes tinham e tresandavam àquelas que Salazar deu a todos os que foram ”convidados” a encher as ruas de Lisboa por onde passou o Imperador da Etiópia...

Na verdade, olhando o modo como os grupos de dança estavam aperaltados, não dava para ver que foram pagos (o que é perfeitamente normal) para espontaneamente saudarem o Celito.

Passa pela cabeça de alguém em seu tino que as populações do Lubango e da Huíla esperavam pelo redentor e que, por um impulso irresistível, saltassem para as ruas, faltando aos empregos e às suas canseiras diárias para ir aclamar o magnânimo distribuidor de afetos, o homem que anda dez quilómetros pendurado no estribo do carro blindado?

O mais triste de tudo isto não é a encenação desta comédia carnavalesca (carnaval ninguém leva a mal), mas o ar patético de Marcelo a falar para Portugal como se tudo aquilo fosse como pretende vender, ou seja, que aquilo representava a exteriorização dos sentimentos das povoações. Quantos farão ideia de quem é o Presidente de Portugal?

O narcisismo de Marcelo atingiu níveis que roçam o patológico. Então ele não se lembra (de certeza que sim, tem razões para isso, o pai foi governador-geral de Moçambique no tempo de Caetano) do delírio dos angolanos e moçambicanos quando o marechal Craveiro Lopes ou o almirante Tomás, o cabeça de abóbora, iam a Angola? E todos saudavam o Presidente português, ao contrário do que faziam crer os terroristas...

Impunha-se decoro no mais alto magistrado da nação, mas não se pode pedir a alguém o que não tem. Ai Celito, Celito...

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico 

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