Ciclismo: pelotão feminino obrigado a parar por estar demasiado perto do masculino

Nicole Hanselmann, líder do pelotão feminino, foi obrigada a esperar que os homens se afastassem, antes de poder retomar a corrida. Ciclista portuguesa presente na prova diz que paragem era inevitável.

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Nicole foi obrigada a parar quando se aproximou do pelotão masculino DR

A líder destacada da prova de ciclismo Omloop Het Nieuwsblad, na Bélgica, foi obrigada a parar pela organização porque se estava a aproximar demasiado do pelotão masculino. A ciclista suíça Nicole Hanselmann tinha dois minutos de avanço em relação aos perseguidores e estava mesmo a aproximar-se do grupo masculino, que tinha partido cerca de 10 minutos antes do grupo feminino.

A corrida das mulheres foi neutralizada durante alguns minutos, tempo que permitiu aos homens ganhar de novo alguma distância entre ambos os pelotões. Quando a corrida foi reiniciada, Nicole Hanselmann partiu com a vantagem que registava antes da interrupção, mas não conseguiu preservar a dianteira da corrida durante mais de 15 minutos. Terminou a corrida do último sábado, 2 de Março, no 74.º lugar.

No Instagram, a ciclista suíça partilhou o que se passou durante a prova: “Hoje [sábado] foi o primeiro clássico de Primavera na Bélgica. Ataquei depois do quilómetro sete e estiva sozinha até ao quilómetro 30. Mas, depois, um momento constrangedor aconteceu e quase vi a traseira do pelotão masculino. Se calhar, as mulheres estavam a ser demasiado rápidas ou os homens demasiado lentos. Depois de ter sido parada, fui novamente apanhada e terminei a corrida na 74.ª posição.”

Em declarações ao Clycling News, Nicole não escondeu a tristeza por ter sido obrigada a interromper a corrida num momento em que estava a alargar a liderança da mesma: “Foi um bocado triste para mim porque estava numa boa fase e quando o pelotão te vê parar ganha uma nova motivação para te apanhar.”

“Não havia grande coisa que a organização pudesse ter feito”

A ciclista portuguesa Daniela Reis esteve presente na prova belga e, ao P3, descreve a neutralização da corrida como algo “caricato”: “Paramos todas durante dez minutos. Na maioria das vezes, o tempo entre o pelotão masculino e feminino estende-se até 40 minutos. Os homens têm mais quilómetros de prova, vão com maior calma. Nós, como fazemos menos quilómetros, entramos logo na corrida.”

A ciclista da equipa belga Doltcini-Van Eyck não atribui a paragem do pelotão feminino à desigualdade de género, mas sim a uma má gestão do tempo de intervalo entre pelotões: “Mas iam fazer o quê? Parar os homens e deixar as mulheres passar? Para eles, mais tarde, nos apanharem novamente? Não havia grande coisa que a organização pudesse ter feito.”

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Daniela Reis esteve presente na prova DR

Em Portugal, seria difícil algo semelhante acontecer, garante a ciclista, que lamenta o facto de as corridas masculinas e femininas serem, muitas vezes, em dias diferentes. “Em Portugal, as mulheres não correm com os homens. Geralmente uns correm de tarde e os outros de manhã, ou até em dias diferentes. O ciclismo em Portugal não tem importância", finaliza. "Faltam pessoas que olhem mais para o ciclismo do que para o futebol.”

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