Ex-embaixador de Angola pede investigação da PGR

Em causa, a está o que o antigo diplomata classifica como "lamaçal" entre as justiças portuguesa e angolana. Não é a primeira queixa que apresenta.

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A Procuradorda geral da República, Lucília Gago Nuno Ferreira Santos

O antigo embaixador de Angola Adriano Teixeira Parreira apresentou junto da Procuradoria-Geral da República (PGR) de Portugal uma queixa-crime em que pede para investigar o "lamaçal entre as justiças angolanas e portuguesa".

A queixa, explicou, surge no seguimento de artigo publicado no portal de investigação jornalística Maka Angola no passado mês de Janeiro, em que são apontados vários casos de corrupção que envolvem membros dos sistemas judiciais angolano e português, após análise de várias mensagens de correio electrónico.

À Lusa, Adriano Teixeira Parreira, que foi embaixador itinerante de Angola e, entre 1994 e 1997, embaixador extraordinário junto das Nações Unidas, em Genebra, e de organizações internacionais sediadas na Suíça, justificou a apresentação da queixa-crime - como outras que já interpôs anteriormente - por considerar que o texto apresenta "a prova" que fundamenta as "imensas suspeitas de comportamentos inusitados".

Apontou a visita promovida a Angola pelo antigo procurador-geral Fernando Pinto Monteiro, com vários procuradores da justiça portuguesa, como um dos casos que lhe terá suscitado desconfiança. Entre estas, Adriano Teixeira aponta para a oferta de "um contentor de paracuca [doce feito com amendoim e açúcar]" a uma das procuradoras que acompanharam Pinto Monteiro nessa viagem, apelando para que a actual PGR portuguesa investigue "de que paracuca se trata, de que contentor se trata" e, nomeadamente, "o que é que essa linguagem codificada quer dizer".

O antigo diplomata acrescenta que "só tenho a reivindicar perante a Procuradoria-Geral da República que de imediato encete todas as acções que levem a desmascarar essa gente e saber quais são as relações que ligavam todos esses personagens”. Adriano Teixeira Parreira acredita que as alterações recentemente promovidas nos órgãos superiores das justiças angolana e portuguesa possam desbloquear a análise dos casos.

"Espero que todas essas instituições, sobretudo as renovadas Procuradoria-Geral da República angolana e agora, também, com uma nova procuradora, a Procuradoria-Geral da República portuguesa, tenham, enfim, decididamente a intenção de julgar estes casos como deve ser", disse.

O ex-diplomata, que também tem nacionalidade portuguesa, considera ainda que a corrupção está a aumentar em Portugal. "Surpreende-me muito mais a corrupção em Portugal, que a corrupção em Angola. Para já, porque já estávamos habituados, e aqui, começam a habituar-nos", alertou.
Adriano Teixeira Parreira louvou ainda a actuação da PGR angolana, que considera estar a funcionar, ainda que "lentamente".