A Grã Ordem Afonsina – Vida e Obra do Rei Fundador

A Grã Ordem Afonsina será uma excelente ocasião para se fazer uma revisão, o mais completa possível do que, além daquilo que a historiografia afonsina tem dito a seu respeito.

Um grupo de eruditos vimaranenses juntaram-se para criar, por escritura pública, no passado dia 13/2/19, uma associação, atribuindo-lhe a denominação social “Grã Ordem Afonsina – Vida e Obra do Rei Fundador”, tendo na sua origem um tema essencial na formação de Portugal: “D. Afonso Henriques e a Nacionalidade Portuguesa”. Os sócios fundadores tiveram em vista o preenchimento de uma lacuna há muito existente na vida associativa vimaranense.

A escolha da denominação “ORDEM” teve por fundamento o facto de se tratar de uma palavra com um importante e amplo significado, nomeadamente, no âmbito histórico, filosófico, jurídico e honorífico.

No âmbito histórico, por se reportar aos tempos de D. Afonso Henriques, na medida em que ele próprio foi fundador de duas ordens militares: Ordem de Avis e S. Miguel da Ala. Filosoficamente, trata-se de um dos conceitos mais fundamentais e fecundos em todos os domínios do pensamento e da ação. No seu aspeto formal pode definir-se como a unidade na diversidade. No plano jurídico, quando se pretende abranger as leis e orientações normativas no seu conjunto e num sentido mais profundo do direito, a tendência é falar-se na “ordem jurídica”. No plano honorífico significa galardoar alguém pelas suas qualidades e serviços relevantes prestados à sociedade e, como se já referiu, será um dos objetivos da nova associação, ou seja, galardoar, a título póstumo, a figura de D. Afonso Henriques, facto que ao longo da história nacional ainda não aconteceu.

Sabemos que relativamente à figura de D. Afonso Henriques, por vezes, o mito sobrepõe-se à história. Mas, o que deve procurar-se é traçar o retrato tanto quanto possível verdadeiro do nosso primeiro monarca. A batalha de S. Mamede é considerada como marco fundamental da independência de Portugal. No plano social e religioso, não obstante as lutas pela reconquista, nunca as minorias judaicas e muçulmanas deixaram de existir e de afirmar as suas diferenças, de modo que a fundação de Portugal se operou na convivência das três culturas: judaica, cristã e muçulmana.

A Grã Ordem Afonsina, agora fundada através de uma associação, sem fins lucrativos, será uma excelente ocasião para se fazer uma revisão, o mais completa possível do que, além daquilo que a historiografia afonsina tem dito a seu respeito, deve ser acrescida de tudo o que a investigação descobrir, nas suas várias “metamorfoses”: de herói, de santo, de vidente, de chefe guerreiro e de Rei Fundador.

Espera-se que a Grã Ordem Afonsina possa ajudar a este desígnio cultural, já que, na mente dos seus fundadores, tem como objetivos fundamentais, o aprofundamento, investigação e promoção da vida e obra do Primeiro Rei de Portugal, em especial, dos aspetos históricos que estão intrinsecamente ligados à cidade de Guimarães, bem como uma grande divulgação da figura de D. Afonso Henriques, como símbolo da identidade de Guimarães, que lhe serviu de berço, como fundador de Portugal e como a pedra angular da construção da grande pátria lusófona. Tentar-se-á fazer a reposição da verdade histórica vimaranense, preocupando-se, acima de tudo, com a cientificidade biográfica para que se chegue a uma conclusão, se não de certeza, pelo menos que alcance uma maior verosimilhança ou probabilidade.

Como se disse, ao longo da história, a figura de D. Afonso Henriques toma a forma de herói, de santo, de chefe guerreiro e vidente. É nesta perspetiva que a sua vida deve ser analisada. Mas, como muito bem refere o historiador José Mattoso, “dada a enorme escassez de informações, verifica-se a necessidade de preencher as suas lacunas por meio de raciocínios dedutivos, de informações indiretas e de hipóteses explicativas, algumas das quais de base muito frágil, mas em todo o caso indispensáveis para se alcançar a compreensão possível dos factos e do seu conhecimento” (cf. D. Afonso Henriques – 14). E é nesta perspetiva que os investigadores vimaranenses devem orientar as suas análises. É importante dizer que, reportando-se a análise à época medieval, é preciso dominar muito bem o latim, língua usada nos documentos antigos até a D. Dinis, como suporte importante na bagagem cultural, infelizmente, hoje rara nos historiadores.

Na qualidade de presidente da Assembleia Geral, no cumprimento dos Estatutos e respetivo Regulamento, espero que os objetivos traçados pelos sócios fundadores sejam alcançados com assinalável sucesso.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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