Fábrica têxtil fecha sem aviso prévio e com salários em atraso

Cerca de 40 operárias estão, desde a passada terça-feira, às portas da fábrica têxtil Cunha & Alves, em Paços de Ferreira, à espera de uma resposta. Em causa está o encerramento da empresa, sem qualquer aviso prévio, deixando-as com dois meses de salário em atraso e o subsídio de férias de Natal do ano passado por receber.

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Nelson Garrido
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Com 41 anos, a empresa têxtil Cunha & Alves, em Paços de Ferreira, encerrou sem aviso prévio. Quando as cerca de 40 funcionárias chegaram ao local de trabalho, na passada terça-feira, encontraram a fábrica fechada. Desde então, não arredam pé da estrada de Raimonda, em Paços, e garantem que só sairão “depois de a empresa pagar o que deve”.

Os dois meses de salário em atraso e o subsídio de férias de Natal de 2018 por pagar já mostravam sinais de “algum problema grande” da empresa. Na verdade, contam, “isto já está mal desde 2017, mas a patroa nunca admitiu”. Apesar disso, “nunca” imaginaram ver este cenário: portas fechadas, telemóveis desligados e direcção incontactável. “Ninguém fala connosco e nós só queremos receber os nossos direitos”, reforçam.

A promessa dos pagamentos começou na passada quinta-feira, 7 de Fevereiro. “Disse-nos que esta segunda-feira ia pagar, mas quando o dia chegou disse que não tinha dinheiro porque o cliente [a Zara] não pagou e que na próxima semana ia ter uma reunião em Espanha para resolver essa situação”, explicam. Depois da promessa não cumprida, “já não dava certezas de que conseguiria pagar”, garantindo, contudo, que “passava a carta para o fundo de desemprego”. O que não foi dito às quase 40 operárias, “de todo”, é que as portas não iriam abrir nos dias seguintes. “Aliás, uma de nós perguntou-lhe se na terça-feira era para vir trabalhar e ela [a patroa] disse: ‘Claro que sim’. Mas até agora não temos nem pagamento, nem carta para o desemprego, nem nada.”

Apesar da fábrica fechada, todas as funcionárias cumprem o horário de trabalho à porta da confecção, prontas para receber uma resposta por parte da patroa. “Se sairmos daqui, perdemos tudo”, dizem. Em conversa com o PÚBLICO, contam que os meses de Novembro e Dezembro de 2018 foram de “pouco trabalho”. “Já estivemos sem fazer nada, ao frio por estarmos paradas, e nem sequer podíamos olhar para o lado”, lamenta uma funcionária que, apesar de não querer ser identificada, realça os mais de 30 anos de trabalho na Cunha & Alves.

Questionado sobre a legalidade do encerramento sem aviso prévio, Carlos Pereira, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores dos sectores têxteis, vestuário, calçado e curtumes do distrito do Porto (SINTEVECC), questiona: “Salvo raras excepções, quais são as empresas que fecham legalmente?”. “Isto é o prato do dia”, acrescenta. “As empresas encerram e depois é que dão conhecimento aos trabalhadores.”

Depois de ter sido contactado assim que as funcionárias se depararam com esta situação, o SINTEVECC marcou uma reunião com a empresa para a tarde desta quarta-feira, na presença do advogado. Ao início da tarde, o sindicalista afirmou ao PÚBLICO que em cima da mesa estão três opções: as funcionárias “reunirem as condições necessárias para se despedirem com justa causa”, os “contratos de trabalho serem suspensos” ou, após a notificação da Autoridade para as Condições do Trabalho, a empresa passar os documentos para o fundo de desemprego.

“As funcionárias irão reclamar os seus direitos junto dos tribunais”, adianta o dirigente, caso não consigam entrar em contacto com a empresa — como tem acontecido nos últimos dias. É que, com o atraso dos pagamentos, as cerca de 40 mulheres têm as vidas em suspenso. “Há rendas para pagar, contas da luz para rematar. Não vamos dizer à EDP ou ao nosso senhorio para esperar pelo momento em que a nossa patroa vai decidir pagar, não é?”, contestam.

Até ao final da tarde, o PÚBLICO tentou saber junto do SINTEVECC qual o resultado do encontro mas não teve sucesso. Desta reunião, as operárias esperavam informações sobre as condutas a seguir nos próximos dias e garantem: “Não saímos daqui sem o nosso dinheiro e os nossos direitos”.

Não foi possível contactar a responsável da empresa.

Texto editado por Ana Fernandes

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