João Miguel Tavares, a escolha improvável

Leio todos os textos publicados no PÚBLICO por João Miguel Tavares e estou certo de que ele faz um esforço consciente, três vezes por semana, para atingir esse objectivo da Verdade como a defino.

A escolha feita pelo senhor Presidente da República do colunista João Miguel Tavares (JMT) para presidir às comemorações do Dia de Portugal de 10 de Junho próximo deixou-me satisfeito. De facto, há anos que tenho por JMT, sem o conhecer pessoalmente, uma grande admiração. A qual resulta da leitura das suas excelentes crónicas neste jornal e da sua aparição no programa “O Governo Sombra” da TVI, que faço o possível por não perder. Por ele, mas também pelo Ricardo Araújo Pereira e o Pedro Mexia, que fazem, presentemente, o programa mais inteligente e pedagógico da televisão portuguesa.

Tentarei explicar a principal razão porque aprecio as crónicas de JMT, que é serem textos raros entre nós por terem, na minha interpretação, o objectivo de procurar a Verdade, de uma forma sistémica e racional, o que considero ser a qualidade mais rara e mais nobre de qualquer homem público. A propósito, para que conste, também de qualquer mulher.

Esta questão da Verdade é um conceito pessoal e precisa de explicação, porque nem tudo o que parece é. Não se trata de João Miguel Tavares não mentir nos seus textos, felizmente muitos outros não mentem quando escrevem. A Verdade é um conceito sobre aquilo que idealmente se procura quando se escreve. É saber fazer, entre todos os factores contraditórios que o debate de ideias comporta, as escolhas certas, aquilo que é defensável entre todas as opiniões e contradições presentes e futuras, ou seja, o que podendo ser hoje contestado sobrevive ao tempo. É a isto que chamo a Verdade.

Ou, dito de outra forma, o objectivo deste conceito de Verdade é o que sobrevive a toda a contestação, ou a toda a diferença pela diferença. Em que cada texto, se lido daqui a dez ou vinte anos, se possa verificar que aquela Verdade é sustentável nas novas condições desse tempo futuro. É isso que encontro em JMT, um esforço bem sucedido de racionalidade e de neutralidade ideológica, razão porque os seus textos não são fáceis de contradizer, desde que, naturalmente, atacados de forma séria e sem o uso da bengala das ideias feitas e das ideologias. Trata-se de saber avaliar tudo de novo, sem preconceitos e usando a razão.

Leio todos os textos publicados no PÚBLICO por João Miguel Tavares e estou certo de que ele faz um esforço consciente, três vezes por semana, para atingir esse objectivo da Verdade como a defini, não sei, mas a minha admiração resulta de não encontrar outros cronistas a fazer o mesmo com sucesso. Claro que é uma visão pessoal, em que a qualidade do humor que ele empresta ao que escreve também ajuda.

Esta minha opinião sobre a estranha escolha do senhor Presidente da República saiu muito reforçada pela leitura dos nomes de alguns ilustres políticos da praça lisboeta que a criticaram. Nomes como Gabriela Canavilhas, Rui Vieira Nery, Francisco Seixas da Costa e, estou certo, muitos mais proximamente, que poderiam perfeitamente ficar calados para benefício próprio, mas não o tendo feito prestaram um serviço à história deste nosso tempo, que assim acaba muito beneficiada, porque daqui a vinte ou trinta anos os vivos poderão ter uma visão aproximada do que era Portugal no ano de 2019. Claro que em todo o lado há pessoas que vivem fora do seu tempo, mas, felizmente, não é caso do professor Marcelo Rebelo de Sousa.

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