Pela estrada fora no Alentejo, entre a terra e o céu

Das profundezas da terra à plenitude do ar, um passeio pelo Alentejo para experimentar o renovado Renault Kadjar depressa se pode transformar numa viagem pelos elementos.

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Paulo Calisto
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Talvez seja das cores do dia que amanheceu envolto em nevoeiro ou da ausência de movimento — mesmo as gaivotas que nos acompanharam ao longo de todo o caminho até Mértola e que, contrariando a sua natureza migratória, ocupam em pares os ninhos em pleno Inverno, parecem ter-nos abandonado. Mas a primeira sensação ao avistar o centro nevrálgico das desactivadas Minas de São Domingos é de se estar a chegar a uma cidade-fantasma. As estruturas, abandonadas em 1965, depois de esgotado o minério, revelam-se imponentes e ao mesmo tempo frágeis — a ausência de ferro nas mesmas, retirado à revelia para a reciclagem, é a garantia de que, mais dia menos dia, cairão. "A cada Inverno, questiono se será desta", desabafa Fernando Valentim, um professor de Educação Física que criou uma empresa de turismo aventura, a Pureland, e que também se dedica a que a história deste local não seja esquecida.

Oriundo de uma família mineira — o avô foi mineiro e o pai nasceu na Achada do Gamo, a aldeia criada junto ao local onde decorriam as actividades de transformação dos minérios extraídos em São Domingos —, a ligação de Fernando às Minas de São Domingos vai para lá da profissional, como se percebe pela forma como recorda o esplendor de outros tempos, quando a Mason & Barry, empresa inglesa com a concessão de exploração do local, transformou a paisagem alentejana ao construir não só as aldeias, mas também todas as valências necessárias para fixar população: hospital, farmácia, igreja, clube recreativo... "No início do século XX, São Domingos tinha mais população do que a capital do distrito, Beja", salienta, recordando que houve um tempo que havia aqui "três bandas e cinco equipas de futebol". Além disso, era dos locais mais desenvolvidos no país: foi o primeiro a ter saneamento básico, a ter luz eléctrica e a usufruir de um caminho-de-ferro (de início, percorrido por vagões puxados por animais).

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Hoje, já não se vê vivalma por estas paragens, à excepção de curiosos em visitas turísticas. Mas a paisagem continua marcada pela exploração mineira na forma como as rochas exibem cortes cirúrgicos, expondo uma surreal paleta de cores — ocre, verdes, amarelos, dourados, vermelhos... — que são reflectidas nos lagos de águas contaminadas.

A palavra contaminação quase nos gela, mas o que nos parece um atentado ao meio ambiente parece ter criado um nicho ecológico único (ou quase: as Minas de Rio Tinto, em Espanha, exibem um fenómeno idêntico) que reproduziu uma ericácea única no mundo: a Erica andevalensis. Actualmente, explica Fernando, há "planos de contenção" para as águas ricas em minério.

Aventura pela estrada

O caminho até aqui, em terra batida, é facilmente percorrido por qualquer viatura, ainda que o estradão possa ser mais bem aproveitado quando dotado de algumas valências como os nossos Kadjar, o SUV da Renault que conquistou uma nova vida em Portugal com a revisão do sistema de portagens — é, desde 1 de Janeiro, classe 1 desde que dotado de Via Verde — e que aproveitou este relançamento para reforçar a sua gama de motorizações (passa a haver duas propostas a gasolina e outras tantas a gasóleo), estreando o novo o 1.3 TCe, o gasolina desenvolvido em parceria com a Daimler, em duas declinações (140 e 160cv), e apresentando propulsores diesel de acordo com as novas regulamentações: 1.5 Blue dCi de 115cv e, previsto para a Primavera, o 1.7 Blue dCi de 150cv.

Por agora, a desafogada altura ao solo (20cm) e o ângulo de ataque de 17º e de saída de 25º permitem-nos brincar um bocadinho pelos estradões alentejanos, com a certeza, porém, de que o comportamento em asfalto não irá desapontar. Afinal, trata-se de um automóvel projectado para a estrada.

A caravana em que seguimos trilha o caminho que, há cem anos, era percorrido pelo caminho-de-ferro que transportava o minério até ao Pomarão, a aldeia construída na encosta da margem esquerda do rio Guadiana, junto à confluência do rio Chança, a partir de onde o cobre e o enxofre (prata e ouro eram mais raros) seguiam de barco até ao litoral. Ainda é visível o fim daquela linha, mas hoje a aldeia conquistou o seu espaço entre o turismo que pisca o olho ao Norte da Europa, como evidencia a existência de várias autocaravanas de matrículas holandesas, norueguesas, alemãs.

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O silêncio na aldeia é quase sepulcral e a paisagem transmite serenidade. Mas, pelo rio, pequenas embarcações de recreio deixam adivinhar que por altura do tempo quente haja mais animação. É com a ideia fixa de voltar que regressamos ao asfalto, agora rumo ao concelho vizinho de Beja – e, aqui, são os céus que nos chamam.

Sobe, sobe, balão sobe (repetir refrão)

Há cinco anos, escrevia nestas páginas que "há coisas que deveriam ser obrigatórias fazer pelo menos uma vez na vida" e que "andar de balão de ar quente pode ser uma delas". O que foi um erro. Não que não se deva experimentar, mas voar de balão de ar quente está longe de ser uma experiência que se esgota numa única vez. "Os locais de partida são sempre diferentes e os de aterragem também", explica Aníbal Soares, piloto e sócio-gerente da Publibalão, que soma mais de duas mil horas de voo no seu currículo. Afinal, quem sabe o melhor caminho para cruzar os céus são os ventos e, nesses, não é possível mandar.

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Ao contrário da estreia, já não há "nervoso miudinho", "risos nervosos" nem "algumas dores de barriga". Enfim, nada que nos faça duvidar da decisão de saltar para dentro do cesto para seis. Desta vez, ao contrário de há cinco anos, também não estamos sozinhos: outro balão, com capacidade para dez, segue ora ao nosso lado ora à nossa frente, num bailado de cores. Começamos por sobrevoar baixinho a aldeia de Entradas, já no concelho de Castro Verde, causando um enorme rebuliço entre os animais domésticos e os cães só param de ladrar quando nos vêem longe. Depois, Aníbal determina a subida do balão, dando-nos um plano geral da vista aérea — muito ao longe, vislumbramos o recorte de Aljustrel e, olhando para baixo, conseguimos perceber que já estamos distantes de terra firme pelo tamanho diminuto das árvores, ainda que estejamos longe de ter alcançado o limite dos dois mil metros ("depois disso, só com equipamento de apoio").

Com a sensação de termos ficado suspensos no espaço, mas também no tempo, o balão vai desenhando uma trajectória descendente ao ponto de passar rente às copas das árvores e de perturbar o tranquilo repasto de umas quantas ovelhas. Algumas vezes, a paz imposta pelo silêncio parece ameaçada por um ramo mais exposto. Mas a velocidade com que Aníbal manobra o balão faz com que o momento seja um mero instante e depressa regressemos a um espírito contemplativo, em que as imagens das minas e da placidez do rio do dia anterior depressa se mesclam na nossa mente com os campos amarelos, salpicados por azinheiras, que em breve nos servirão de amparo à queda. E de volta à realidade e à estrada.

A Fugas viajou a convite da Renault Portugal

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