A luta política

É desolador ler pessoas obviamente inteligentes a estreitar os conhecimentos e a compreensão em vez de exercitá-los e fazê-los crescer. Temo que o respeito mútuo seja uma coisa do passado. É a parte "mútuo" que é importante.

A coisa que mais me impressionou quando estive a investigar os integralistas lusitanos para a minha tese de doutoramento era a maneira como as pessoas, de direita e de esquerda, continuavam amigas apesar de terem ideias políticas completamente diferentes.

Não era só continuarem amigas – tornavam-se amigas. Escreviam barbaridades umas contra as outras mas não levavam a mal, reconheciam que isso fazia parte da luta política. Quando entrevistei Castelo Branco Chaves ele explicou-me que tinha de ser assim porque a alternativa seria uma selvajaria.

O respeito não se pode impor, tem de ser um resultado da estima ou do reconhecimento. Há muito tempo, até pelas especializações de interesses que permite a Internet, que as pessoas da política não se conhecem todas umas às outras como seres humanos, todos diferentes.

Ao mesmo tempo que há essa especialização em que cada um só priva com pessoas parecidas consigo há, ao nível público, uma polarização cada vez mais violenta e maniqueísta em que só se pode ser a favor de uma coisa ou pessoa (não é só Trump, é tudo) ou contra ela.

Cada um de nós é uma flor de estufa na nossa vida pessoal, nunca sendo exposto a ideias e pessoas diferentes, mas na vida pública somos megafones, bradando as mesmas palavras e as mesmas opiniões toscas e simplificadas.

É desolador ler pessoas obviamente inteligentes a estreitar os conhecimentos e a compreensão em vez de exercitá-los e fazê-los crescer. Temo que o respeito mútuo seja uma coisa do passado. É a parte "mútuo" que é importante.

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