Morreu Susan Hiller, a artista que explorou o paranormal

A artista norte-americana, que morreu na segunda-feira, aos 78 anos, explorou vários media, construindo grandes instalações.

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Susan Hiller em Serralves, em 2004 MARCO MAURÍCIO/ARQUIVO

No próximo mês de Fevereiro, a exposição de Susan Hiller no Museu de Serralves, no Porto, não pode deixar de se transformar numa homenagem à artista agora desaparecida. A artista norte-americana morreu esta segunda-feira, aos 78 anos, “depois de uma curta doença”, informou a Lisson Gallery, a sua galeria londrina. Uma das suas grandes instalações, Os Pensamentos São Livres (2011-2012), vai ser remontada no Porto, no âmbito da programação que, comemorando os 20 anos do museu, dará a conhecer obras da Colecção de Serralves, que esta peça integrou em 2013 através de uma doação da artista.

A exposição, composta apenas por aquela obra, mostrará como o trabalho da artista, que nasceu em Tallahassee e cresceu em Cleveland mas se radicou em Londres nos anos 60, se relaciona estreitamente com a sua formação como antropóloga, nomeadamente através da utilização de objectos retirados do quotidiano​ e de uma metodologia inspirada no trabalho de campo. Die Gedanken sind frei/ Os Pensamentos São Livres junta 100 canções de protesto em várias línguas, a cuja reprodução podemos aceder através de uma jukebox e das letras colocadas nas paredes (em 2017 o Fórum Eugénio de Almeida expôs a mesma instalação, que também integra a colecção Helga de Alvear).

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A instalação Die Gedanken sind frei/Os pensamentos são livres foi mostrada em 2017 no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora RICARDO LOPES/ARQUIVO

Susan Hiller teve em 2004 uma exposição em Serralves, Revocar. Obras Escolhidas (1969-2004), que o museu aponta como a primeira monográfica da sua carreira, feita em colaboração com várias instituições internacionais.

“Ela será lembrada não apenas como amiga, intelectual e mentora, mas também como uma voz poderosa e única da arte contemporânea nas últimas quatro décadas. As suas investigações e revelações das profundezas escondidas da imaginação humana encontraram expressão em instalações e filmes, na pintura, na escultura, na fotografia e na escrita”, sublinha a galeria.

Outro dos trabalhos mais conhecidos de Hiller, The Last Sillent Movie (2007), é uma projecção negra que articula som e legendas de várias línguas em vias de extinção ou já extintas. Igualmente célebre é a sua instalação Witness (2000), que através de dezenas de altifalantes pendurados no tecto de uma sala escura relata experiências de pessoas que acreditam ter sido raptadas por extraterrestres. Explorou também sonhos (Dream Mapping, 1974) ou experiências de quase morte (Clinic, 2004).

Susan Hiller chamava a muitas das suas pesquisas “paraconceptuais”, revelando as raízes que a sua obra tinha no conceptualismo mas também o modo como se dedicou a expandir esse léxico para áreas como o paranormal ou o irracional.

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