Selvagem à chuva

Enquanto a Europa gela nós andamos a ziguezaguear por aí como se a chuva nos estivesse a atacar.

Um sinal que temos sorte com o nosso clima é a indignação com que verificamos que está frio e chuvoso. Na nossa cabecinha privilegiada ou está frio e não chove ou chove e não está frio. Agora chuva e frio ao mesmo tempo? Inaceitável!

Enquanto a Europa gela nós andamos a ziguezaguear por aí como se a chuva nos estivesse a atacar.

Quando chove (e está frio!) as regras do trânsito passam a ser inventadas por cada freguês, conforme mais lhe convém. Esta criatividade estende-se aos cidadãos de países onde todos se orgulham de cumprir todas as leis.

Um casal muito finório decidiu estacionar o carro de maneira a bloquear a ruela por onde saímos. Quando buzinei a senhora zangou-se e fez-me sinal para esperar. Como não gosto de receber ordens de pessoas que não conheço buzinei outra vez. Aí ela zangou-se mesmo fazendo gestos de "estes portugueses malcriados, não respeitam o bem-estar dos superiores".

No país de onde provieram não lhes passaria pela cabeça estacionar à frente dum portão aberto. Se alguém lhes desse uma buzinadela discreta pediriam desculpa e tirariam imediatamente o carro.

Mas estão em Portugal no meio de camponeses que não têm nada para fazer e até gostam de ficar presos enquanto o senhor e a senhora, para não apanhar chuva, vão comprar uma saca de comida para o cão.

Continuei a buzinar. Já falei com esta gente que fala com saudade dum Portugal onde tínhamos todos casinhas brancas, um burro e, sobretudo, o maior dos respeitos pelos estrangeiros que faziam o imenso favor de nos visitar.

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