O grande Vasco

Fica-se sempre surpreendido com o que ele se lembra de dizer e eufórico com a lata que tem para dizê-lo. Vasco Pulido Valente é a liberdade personificada.

Tinha-me esquecido do dia em que Vasco Pulido Valente ia voltar a escrever no PÚBLICO e assim, hoje de manhã, ao deparar com o Diário dele, tive uma das maiores e melhores surpresas da minha vida. Ia acrescentar "da minha vida como leitor" mas não, foi mesmo uma das melhores surpresas da minha vida, ponto final.

Habituei-me cedo à inteligência e ao sentido de humor do Vasco, de tal modo que nunca me habituei a não poder lê-lo. Conto com ele, sim, mas a verdade é que não passo sem ele.

Tive a sorte de conhecê-lo e de trabalhar e almoçar e jantar com ele – e ele tem tanta graça em pessoa como tem a escrever –, mas essa sorte foi sempre complementar ao prazer de lê-lo. O Vasco tem muitas qualidades que outras pessoas têm – a sabedoria, a irreverência, a coragem, a honestidade, a elegância da prosa – mas ele tem todas ao mesmo tempo.

Tem também uma qualidade que é a melhor que um escritor e pensador pode ter: é infalivelmente imprevisível e divertido. Fica-se sempre surpreendido com o que ele se lembra de dizer e eufórico com a lata que tem para dizê-lo. Ele é a liberdade personificada. Ele mostra que a liberdade é um prazer, que ninguém está acima dela: comemos todos pela mesma medida.

As embirrações dele – digo-o depois de quatro décadas de estudo atento – têm sempre um bocadinho de razão. O Vasco consegue ser outrageous e sensato ao mesmo tempo. Nem os inimigos lhe negam o impiedoso espírito crítico mas parte do fascínio dele é também o entusiasmo dos afectos que o movem – e que mudam deliciosamente.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários