Rock confeccionado em Braga é a ementa para a Noite de Reis

Nove bandas, entre as quais se incluem os Quadra, os Grandfather’s House, os Bed Legs e os Máquina del Amor, vão actuar neste sábado, na primeira Noite de Reis promovida pela sua agência, a Bazuuca. O evento assinala o aparecimento de vários projectos, do hip-hop à electrónica, ao longo dos últimos cinco anos.

Fotogaleria
Grandfather's House Tiago da Cunha
Fotogaleria
Máquina del Amor Tiago da Cunha
Fotogaleria
Quadra dr
Fotogaleria
Bed Legs Maria Salgado

A agitação criativa no que à música diz respeito parece fervilhar novamente em Braga. A cidade presenciou o aparecimento da primeira vaga de bandas rock nos anos 1980, com os Mão Morta a destacarem-se e a tornarem-se um dos nomes consagrados da música nacional. Passados 30 anos, mais de uma dezena de projectos estão no activo, dispostos a manter esse legado, mas sempre à espreita de novas sonoridades.

Nove destas bandas vão reunir-se neste sábado, a partir das 23h, para oferecerem uma Noite de Reis, em que a música será o alimento que sacia quem nela vai participar. Marcada para o Lustre, uma discoteca que aceitou abrir as portas a um outro registo musical, a sessão de concertos é organizada pela Bazuuca, entidade que agencia todos os nomes em palco. Essa agência, porém, resume-se a uma só pessoa: João Pereira. Rosto comum a todos os projectos em palco, o agente musical reitera que a cidade, em termos de criação musical, atravessa “o melhor momento desde os anos 80”. “O evento vai marcar a fase que a cidade vive, com muita qualidade e quantidade. E não há só um estilo. Há projectos do metal ao rock, do pop ao hip-hop e à música electrónica”, realça ao PÚBLICO.

A Noite de Reis da Bazuuca transparece precisamente essa diversidade. Nas duas salas do Lustre – uma para 400 pessoas, outra para 250 – vai haver rock n’roll com os Bed Legs, a banda que, em 2015, convidou João Pereira a fundar a Bazuuca para agenciar o seu novo álbum e agendar os seus concertos. Vai haver também rock instrumental, com os Quadra, e pós-rock, com os This Penguin Can Fly. Os timbres pop de Grandfather’s House e de Palas também constam da ementa de sábado à noite, tal como a electrónica, que vai estar representada por Máquina del Amor, Tundra Fault, No!On e Missing Link.

A Bazuuca não é, contudo, o único elemento comum aos nomes que compõem o cartaz. As salas de ensaio do Estádio 1.º de Maio, abertas em 2006, também o são e, com mais de 20 projectos no seu seio, explicam o ressurgimento da música na cidade. “Com estes espaços, as bandas não se ficam pela garagem e passam a querer alcançar algo mais”, disse.

Uma onda com várias amplitudes

Nem todos os intervenientes nesta onda que se alastra pela urbe minhota são jovens à procura de darem os seus primeiros passos na música. Filipe Palas já convive com ela desde 1998. Foi guitarrista e vocalista dos Smix Smox Smux, trio fundado em 2007, mas, com a interrupção do percurso da banda, envolveu-se noutros projectos. Vai apresentar-se em dose dupla com os Máquina del Amor e com o seu projecto pessoal.

O som de ambos é distinto, admite o artista ao PÚBLICO. A busca por novos territórios no reino da electrónica inspirou os dois primeiros álbuns dos Máquina del Amor – Máquina del Amor (2015) e Disco (2017) – e vai alimentar um terceiro, com lançamento previsto para 2019. “O ambiente e a electrónica vão estar presentes, mas procuramos novos sons mecanizados, diferentes dos que até agora fizemos”, explicou.

O projecto a título pessoal, lançado em 2018, com um EP de seis faixas, reúne, por seu turno, as composições que Palas foi gravando ao longo dos anos, em colaboração com elementos de outras bandas presentes na Noite de Reis, como Tiago Calçada, guitarrista dos Bed Legs, e Sérgio Alves, baixista dos Quadra, uma das formações mais recentes do cartaz.

Fundada em 2016, a banda viveu até agora uma carreira de metamorfoses, quer no som quer nos elementos que a compõem. O baterista Hugo Couto recorda ao PÚBLICO que, depois do lançamento do primeiro EP, a banda quis apagar a melancolia e o cinismo e substituí-los por um som mais alegre. Após sucessivas trocas de elementos, os Quadra lançaram, em 2018, Cacau, um trabalho em que se saboreia rock e psicadelismo. No entanto, concluído o primeiro álbum, a banda já definiu os princípios do segundo. “Queremos apresentar nuances mais voltadas para a electrónica e para a dança, mas vamos continuar a rejeitar a ironia e o cinismo e a afirmar a liberdade para se ouvir música com prazer”, diz Hugo Couto.

Entre o elenco de sábado, os Grandfather’s House são uma das bandas que até agora mais visibilidade conseguiram internacionalmente, com três digressões europeias. Com uma carreira de sete anos, o conjunto foi amadurecendo o seu som até criar, em 2017, Diving (2017), o seu trabalho mais “denso e profundo”, bem recebido pela crítica, afirma ao PÚBLICO Tiago Sampaio. Para o guitarrista, a sessão de sábado traduz a evolução musical que se viveu na cidade ao longo dos últimos anos, algo que, no seu entender, se assemelha ao que aconteceu no Porto.

Além do concerto da Noite de Reis, João Pereira espera realizar outros ao longo do ano. Para o agente musical, é importante assegurar que a vitalidade do presente vai ter futuro. “Com este evento, interessa-me que esta onda não pare. É importante que os mais novos olhem para isto, porque se ninguém andar com isto para a frente, isto vai acabar por morrer”, avisa.

Sugerir correcção
Comentar