Que PSD teremos em 2019?

Ao PSD não basta ter um presidente que ganhou eleições autárquicas no Porto. É preciso ter um líder que saiba ganhar o País!

O ano de 2018 foi infeliz para o PSD. Deixou de ter um líder e passou a ter apenas um presidente. E o ano correu-lhe mal.

O presidente eleito rodeou-se dos "seus", ostracizou deputados e militantes, não soube ouvir, não soube comunicar.

Rodeou-se mal quando, legitimamente, é certo, escolheu pessoas que debilitaram a sua credibilidade. Algumas delas tinham atrás de si um curriculum tão "nocivo" que até custa a entender que isso tenha sido desvalorizado. Resultado dessas escolhas foi também o de que muitas delas se tornaram imprestáveis. Nem sequer aparecem porque não mobilizam ninguém. Os bons, que também lá estão entre os seus próximos, parecem não conseguir influenciar, ou sequer aconselhar o presidente, voluntariamente preso ao seu estilo “quero, posso e mando".

Ostracizou aqueles que qualificou de “críticos” e desvalorizou por completo o seu grupo parlamentar. Presumindo, a meu ver mal, que ali estava a sua oposição, não soube ou não quis unir, conciliar, agregar. E, assim, uns foram "banidos" do trabalho parlamentar, alguns cansaram-se e saíram. Entre os que permanecem, uns quantos foram recentemente chamados a participar, após meses de silêncio, aliás desmentido pelos seus responsáveis, num exercício pueril de negação das evidências. Muitos estão quietos no seu canto, calados, uns resilientes, alguns ainda expectantes, outros amedrontados. E por aqui me fico, neste tópico. Não darei demasiada importância aos que nunca foram frontais e genuínos e sempre fizeram jogo duplo. Com um pé de cada lado lá vão sobrevivendo. Afinal, foi assim que sempre fizeram no passado. O cúmulo da desconsideração com o grupo parlamentar foi ter sido remetido aos partidos políticos um documento sobre a reforma proposta para a justiça sem que nunca tivesse sido enviado aos deputados do PSD, nem antes, nem depois. Simplesmente, não se faz. Desgraduar e desmotivar dezenas de deputados é perder outros tantos braços armados nas lutas que o partido deveria estar a travar como maior partido da oposição e em ano de eleições.

O presidente não soube ou não quis ouvir. Perante a insatisfação manifestada por muitos militantes convidou-os a sair. E alguns saíram mesmo e passaram a constituir um problema adicional para o PSD porque os que ficaram não conseguem vê-los como traidores. Pelo contrário, muitos identificam-se com a sua insatisfação e continuam a vê-los como um dos "nossos". Numa demonstração de autoridade inútil, porque nada cria e só destrói, alimentou-se a tese de que "quem faz criticas vai pagá-las" e o esforço tem sido desperdiçado a ameaçar e a culpabilizar antecipadamente os ditos "críticos" pelos eventuais maus resultados eleitorais, esquecendo que a responsabilidade é sempre de quem deveria liderar, unir e mobilizar, mas não quer ou não consegue!

Mas também não soube comunicar. Entre silêncios incompreensíveis e declarações que não chegaram às pessoas, raros foram os momentos em que as propostas apresentadas pela direção do PSD foram explicadas com eficácia. Com todas as fichas postas num Conselho Estratégico Nacional que mal se vê, aparecem ideias que são percecionadas como isoladas, direcionadas a alvos concretos ou resultantes de uma agenda pessoal antiga.

Sondagens à parte, conta muito o que sentimos nas pessoas, nos militantes que, esses sim, são o PSD. E o que se sente nas pessoas é desânimo, desmotivação e receio pelo futuro do partido. Há exceções, claro, mas mesmo entre os apoiantes de sempre do presidente, que o conhecem há muitos anos, há surpresa e desilusão. Estranhamente, o próprio presidente não parece preocupado com isso, nem mesmo com os óbvios sinais de afastamento de eleitorado tradicional do PSD. Quando confrontado com essa questão, a da insatisfação visível desse eleitorado, onde se incluem muitos militantes, afirma-se convicto de que esse afastamento será compensado pela grande adesão de novo eleitorado “recrutado” fora do espaço do PSD. Mais alguém acreditará genuinamente nesta tese? Então deixa-se partir o eleitorado certo e fiel do PSD, esperando recuperar essa perda na incerteza do espaço de outros partidos ou na abstenção?

A desvalorização do desalento dos militantes e eleitores leais ao PSD é um erro que pode vir a custar caro àquele que ainda é o maior partido português. E não adianta vir depois “atirar” sobre quem avisou e questionou a estratégia ou talvez a falta dela. Encontrar bodes expiatórios é fácil e a tarefa de os identificar está em marcha há muito tempo. O difícil é, para já, mobilizar os desanimados e depois, se um desaire acontecer, colar os cacos.

Um partido é uma instituição e é tarefa central de quem a dirige mantê-la viva e se possível fazê-la crescer, em todas as suas dimensões. Se, em vez disso, a sua ação estreita, afunila, exclui, o resultado nunca poderá ser positivo.

Por tudo o que fica dito, seria bom se, em 2019, este rumo mudasse e o PSD fosse feliz!

Talvez haja ainda tempo, assim exista a vontade, para incluir, alargar, convocar, em torno de um bom projeto, atempadamente definido e explicado, com energia e dinâmica, a quem queremos manter e cativar. Um projeto forte, alternativo a esta governação socialista que, ancorada numa propaganda eficaz, vende aos portugueses um País de maravilhas que simplesmente não existe.

Mas para que isto aconteça será preciso que quem dirige compreenda que ao PSD não basta ter um presidente que ganhou eleições autárquicas no Porto. É preciso ter um líder que as queira e saiba ganhar no País!

Será também preciso que o presidente entenda que os militantes não querem um partido mediano, homogéneo e mais "controlável", porventura transformado em bengala de outro partido dominante. Querem o seu PSD, o maior partido português, plural, diversificado, mobilizado, onde sempre couberam todos, onde todos se sentiram livres e que não se resigna com menos, nem trabalha para menos, do que ganhar o País! 

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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