Morreu um histórico da defesa do Ambiente no Algarve

Corpo de João Santos, fundador e sócio n.º 1 da associação Almargem, vai esta quinta-feira de Loulé para Setúbal, onde será cremado.

Foto
João Santos, aqui à frente de um grupo de caminheiros, tinha 66 anos DR

João Santos, um dos fundadores da associação ambientalista Almargem, faleceu na véspera do Natal, vítima de cancro. O percurso de vida deste militante das causas ecológicas está associado aos grandes debates e conflitos de interesses que ocorreram na região, desde a década de 1980. O corpo está a ser velado na igreja Santa Ana, em Loulé, seguindo esta quinta-feira para Setúbal onde será cremado. 

Discreto na forma, perseverante na defesa de princípios, assim o definem os mais próximos, lembrando que foi o “rosto público” das grandes batalhas pela defesa do património ambiental e cultural, numa região que nasceu tarde para esses valores. Natural de Gouveia, na Guarda, João Santos vivia em Loulé, desde 1979. O professor de ensino secundário, biólogo de formação, foi um dos mentores da criação de uma consciência ecológica no Algarve, e teve seguidores de diferentes gerações. A Via Algarviana é um dos muitos projectos que abraçou, e nem sempre teve a compreensão dos poderes públicos.  

“Homem de causas”, assim o define o actual presidente da Almargem, José Raposo, recordando os “ensinamentos” que recebeu do mestre. Primeiro, num programa sobre ecologia, na extinta estação Aloé Rádio, depois pelos muitos debates em que se envolveram ao longo de três décadas. “Com profunda tristeza e pesar”, a direcção da Almargem, comunicou a morte, aos 66 anos, do sócio n.º 1. 

João Santos conhecia como poucos a história da região, e soube fazer pontes como outras associações ambientalistas, quando estavam em causa valores universais. Aconteceu, por exemplo, na defesa da Quinta da Rocha, na praia do Alvor, na alteração do traçado da auto-estrada Lisboa/Algarve, para preservar o sítio classificado da fonte da Benémola. Mas também levantou a voz na discussão do Plano Regional de Ordenamento do Algarve (PROT), ou nos planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), que tanta polémica têm causado.

Umas vezes lutou contra o poder central, outras opôs-se aos poderes locais, em nome dos princípios e valores em que acreditava. Desse modo, a Almargem afirmou-se como uma referência na região e no país. É “uma perda irreparável”, lamenta a actual direcção, garantido que os ensinamentos “as qualidades humanas, científicas e pedagógicas” do fundador fazem parte do património desta associação e vão continuar como um “guia” para o futuro.

Sugerir correcção
Comentar