Clube Atlético Paranaense: título inédito após corte na tradição

O emblema brasileiro conquistou pela primeira vez a Taça Sul-Americana poucas horas depois de os adeptos saberem que o clube vai sofrer uma alteração de imagem “radical”.

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Clube Atlético Paranaense LUSA/SEBASTIAO MOREIRA
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O antes (à esquerda) e o agora (à direita) do logótipo do Clube Atlético Paranaense
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Clube Atlético Paranaense Reuters/PAULO WHITAKER
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Clube Atlético Paranaense Reuters/RODOLFO BUHRER
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Clube Atlético Paranaense LUSA/HEDESON ALVES
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Clube Atlético Paranaense LUSA/HEDESON ALVES

A cidade de Curitiba, no sul do Brasil, vive um momento histórico. O Clube Atlético Paranaense (CAP) tornou-se na madrugada desta quinta-feira o campeão da Taça Sul-Americana, a competição secundária da CONMEBOL. A equipa brasileira venceu os colombianos Junior Barranquilla por 4-3, após desempate nas grandes penalidades, na segunda mão da final que decorreu na Arena da Baixada e terminou empatada a dois golos após 120 minutos. O primeiro jogo, na Colômbia, terminou 1-1.

Horas antes da partida havia enorme expectativa e ansiedade por parte dos adeptos brasileiros, apesar da confiança na vitória. Tratava-se da primeira final internacional do clube do estado do Paraná. No entanto, estes sentimentos misturavam-se com uma enorme irritação pela “repaginação forçada” decidida pelos responsáveis do clube. A direcção do Clube Atlético Paranaense deliberou mudanças no logótipo, equipamento e nome do clube, sendo todas elas apresentadas na terça-feira.

Gerações diferentes de apoiantes do CAP vibravam com este momento único. “Estou a sentir uma emoção que jamais tinha vivido como adepto. Fiquei a última noite sem dormir direito com a ansiedade. Sim, estou indignado com a mudança, por tudo o que foi criado e feito às escuras pela directoria, com a aprovação do conselho sem ver as mudanças”, disse ao PÚBLICO Will Beher, adepto de 30 anos. Com 21 anos, Gustavo Camargo, só tentava “ignorar” a "repaginação" porque estava “ansioso” para voltar a ver a sua “equipa competitiva”. Para ele, um título internacional “colocaria de vez o Paranaense entre os principais clubes do Brasil”. Ainda assim, esperava que as mudanças visuais fossem “repensadas" e que mudem. "Não agradou a ninguém, principalmente o novo uniforme” e foi “desnecessário antes de um jogo tão importante”, afirmou.

Os responsáveis do Atlético Paranaense dizem que a mudança “intensa” será benéfica “para o mercado do futebol e tudo isso, claro, calhou no meio da final da Sul-americana”, conta Monique Vilela, repórter da Rádio Banda B, de Curitiba que trabalha diariamente a actualidade do clube.

O equipamento e o logótipo deixarão de ter “as listras verticais vermelhas e negras para ter imagem de alusão ao furacão [alcunha do clube]”, conta a jornalista brasileira. Daqui para a frente, o Clube Atlético Paranaense vai ter três equipamentos de apenas uma cor: o principal será vermelho, o segundo branco e o alternativo preto.

Além disso, a grafia do nome do clube ganhou mais um caractere. Foi anunciada a inserção da letra H no nome. Clube Athletico Paranaense é agora o novo nome do clube. Por que motivo tudo isto é tão relevante? “Para resgatar a história do clube", dizem os responsáveis, que tinha nos anos 20 a letra H no nome. E também para ter uma “identidade própria” até porque "há muitos Atléticos no Brasil”, explicou ao PÚBLICO Monique Vilela citando algumas palavras do presidente do conselho deliberativo do clube Mário Celso Petraglia: “Nós temos que reconhecer que Atlético é o Mineiro [do estado de Minas Gerais] quando se fala no Brasil e fora do Brasil”.

Este dirigente é uma figura controversa no dia-a-dia do Clube Atlético Paranaense, contou ao PÚBLICO Bruno Andrade, jornalista luso-brasileiro do site desportivo Goal.com, que comentou o jogo em directo na SPORT TV.

Confiante que o CAP iria conquistar o troféu, Bruno contou que a mudança “foi mais radical do que se esperava”. “Ia de facto acontecer uma mudança grande. Tudo isto começou a partir do presidente deliberativo [Petraglia] que já foi o presidente do Paranaense. É uma pessoa muito difícil de conviver, um dirigente que pensa com a própria cabeça, raramente escuta quem lhe é próximo. Ele quis fazer este Atlético Paranaense diferente dos outros Atléticos sem pensar nos adeptos e conseguiu convencer todo o conselho a ficar do lado dele. A ideia foi dele, o poder dele é grande e contratou uma empresa que fizesse esta mudança”, explicou o jornalista. O clube terá planeado todo o novo design nos últimos três meses.

“Não foi coincidência” o timing desta actualização de imagem do Paranaense ter acontecido mesmo antes de um jogo histórico para o clube, novamente, por causa do dirigente Petraglia. “Certamente foi feito para abafar um pouco o adepto que estava sem dormir. Estes torcedores estão a dormir mal e a pensar neste jogo. A maior parte não gostou da mudança, mas eles estavam preocupados com a final e com o que a vitória podia trazer: deixar de ser um clube nacional como também internacional. As críticas nas redes sociais estão a ser grandes, mas podiam ser maiores por causa da final”, contou Bruno Andrade sem deixar de clarificar que os adeptos “vão movimentar-se” e os “meses de Janeiro e Fevereiro [quando as competições estiverem interrompidas no Brasil] podem ser muito complicados em Curitiba”.

A mudança foi “organizada praticamente só pelo dirigente” e “não passou pelo crivo dos adeptos”, diz. “Os brasileiros importam-se muito com isto, são tradicionalistas”, referiu Bruno Andrade. “Todos os adeptos de futebol no Brasil estão a mobilizar-se contra isso. Todo o clube que imagina fazer alguma mudança daqui para a frente, vai tirar o pé”, alertou.

Apesar da distância, Gustavo Cascardo, defesa emprestado pelo Atlético Paranaense ao Vitória de Setúbal, diz ao PÚBLICO que acompanhou a vitória com "um sentimento total de alegria". "Todos os envolvidos nessa conquista, trabalharam muito para esse momento. Só faltava um título dessa dimensão para coroar esse grande clube", afirmou o brasileiro que apoia a "repaginação" do clube por ser uma "homenagem ao passado, e ao mesmo tempo, uma nova identidade". Em Abril, Gustavo Cascardo conquistou o campeonato paranaense com o Atlético e diz que será "sempre um orgulho defender a camisa do CAP".

Há 13 anos, o clube brasileiro já tinha tido a oportunidade de conquistar um título continental, mas perdeu a final da Taça Libertadores de 2005, a principal prova de clubes sul-americana, frente a outra equipa brasileira, o São Paulo.

A conquista da Taça Sul-Americana garante ainda ao Atlético Paranaense o direito a participar na próxima edição da Taça Libertadores e na Supertaça Sul-Americana, contra os argentinos do River Plate, vencedores da edição deste ano da mais importante prova de clubes do continente sul-americano.

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