Enfermeiros querem reunir 400 mil euros para fazer greve mais "agressiva"

Nova greve vai abranger mais hospitais e será mais "agressiva e expressiva", avisa o movimento que organizou protesto inédito que levou ao cancelamento de cerca de "seis mil cirurgias".

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Paulo Pimenta

O movimento de enfermeiros que está na base da greve prolongada nos blocos cirúrgicos de cinco grandes hospitais públicos vai avançar com uma nova paralisação e quer recolher, até 14 de Janeiro, 400 mil euros num "fundo solidário" para ajudar os profissionais que aderirem e ficarem sem salário durante o período que durar o protesto.

Nesta terça-feira à tarde deverá ser criada uma nova plataforma pública de recolha de fundos para a designada "greve cirúrgica 2", adiantou ao PÚBLICO Catarina Barbosa, que pertence ao movimento de enfermeiros que está na base deste protesto inédito em Portugal.

A nova greve vai abranger mais hospitais e será mais "agressiva e expressiva", avisa o movimento na sua página no Facebook. Foi graças a uma primeira recolha de fundos que obteve 350 mil euros que o movimento avançou para a greve actualmente em curso (até ao final deste mês) nos blocos operatórios dos centros hospitalares do Porto e S. João, o de Lisboa Norte, o de Coimbra e o de Setúbal.

A greve actual já terá provocado o adiamento de cerca de seis mil cirurgias, pelas contas de Carlos Ramalho, do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), que convocou a paralisação em conjunto com a Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (Aspe). Os dois sindicatos estão na disposição de convocar um novo protesto, caso a tutela não se disponha a dialogar. "Se necessário, vamos fazer novos pré-avisos de greve", admitiu Carlos Ramalho, que lamenta que a opinião pública esteja a ser "intoxicada" com "notícias falsas", como a de que nenhumas crianças estão a ser operadas. "Isto é falso", assegurou.

"Ao contrário dos mitos que andam por aí a circular, não têm sido instituições ou hospitais privados a fazer donativos para apoiar a greve, foram os próprios enfermeiros e as suas famílias e amigos que deram dinheiro e até houve médicos, cirurgiões e anestesistas, a contribuir também", garantiu também Catarina Barbosa.

Lista de donativos

A lista das pessoas que fizeram donativos não foi tornada pública porque, além de muitas pessoas terem dado dinheiro "anonimamente" (fizeram a contribuição através de uma referência no multibanco), "não há interesse nem faz sentido" divulgar os nomes das que contribuíram a título individual, justificou.

Além disso, acrescentou, há também muitos colegas emigrados (são cerca de 15 mil no total os profissionais portugueses a trabalhar no estrangeiro, sobretudo no Reino Unido) a colaborar, porque "estão solidários" com esta luta. "O menor donativo que recebemos foi cinco euros e o maior, 250", especifica a enfermeira.

Para já, o movimento não vai adiantar quais serão as outras unidades de saúde a ser afectadas pela forma de luta que está a causar mossa nos hospitais e já motivou um apelo do secretário de Estado Francisco Ramos, na TSF. Pediu aos sindicatos que parem com a greve para poderem iniciar negociações. "Não compreendemos esse argumento. O Governo negoceia com outros profissionais que estão em greve, como os estivadores", lembra Carlos Ramalho.

Este modelo de protesto surgiu porque este grupo de profissionais entende que "as formas de luta até hoje adoptadas, sendo válidas, não lograram alcançar legítimas pretensões" dos enfermeiros.

Em causa estão reivindicações relacionadas com as carreiras, o descongelamento das progressões e a valorização do trabalho diferenciado desta classe que se declara “exausta” e com milhares de horas de trabalho em dívida.

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