Só indo lá

Para que têm um telefone? Para nos dizer que temos de lá ir.

Anda-se meia-hora à procura do telefone de uma loja específica dum grupo francês. Ei-lo: o número da loja de Cascais.

Liga-se e afinal é um número geral para todas as lojas. Pode transferir a chamada para Cascais? Do verbo transferir só ficam as três últimas letras: rir. Não, claro que não podem "transferir", já não estamos no século vinte, eh eh, quando todas as chamadas tinham de passar por um pêbêxis em que um corredor de senhoras achapeladas manipulavam jacks multicoloridos que enfiavam em buraquinhos dum vasto armário de mogno ligado por cabo submarino ao mundo das nações.

Pode o "colega" (uma graxa inofensiva, a ver se ele acredita que trabalhamos para a mesma firma) dar então um recado a um empregado com quem queremos falar? Não. E aí o impotente (mas simpático) interlocutor avisa que todos os contactos com a loja de Cascais terão de ser feitos por "atendimento presencial".

"Atendimento presencial" é a versão pirosa de ter de lá ir. E se a razão de falar com aquele empregado é saber se tem de lá ir ou não? Não importa, tem de lá ir à mesma, para saber se tem de lá ir.

Esta conversa imortal, folgamos em saber, por termos sido avisados de antemão, foi gravada "para efeitos de monitorização", a versão pirosa de "para depois não dizer que não disse, seu mentiroso!"

Se não quisermos ser gravados podemos visitar o website, maneira cínica de nos mandar àquela parte.

Serviu a revolução das comunicações para isto? Já nem telefonar se pode? Então porque têm um telefone? Para nos dizer que temos de lá ir.

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