O Pedro e a Inês

Vem aí a geração que nos há-de salvar!

Num casamento recente a minha sobrinha Inês investiu o tempo de que
dispunha a observar e a provar uma perna de presunto que um esgrimista
desbastava com brio.

Interessavam-lhe os gostos diferentes das várias manchas de gordura e
de carne. O faqueiro depressa a contratou para ajudante, pagando-a à
fatia.

Este Natal a Inês, que tem dez anos, quer uma perna de presunto, de
preferência, se as massas dos pais chegarem para isso, uma perna de
jamón 100% ibérico de bellota.

O irmão Pedro só é mais gourmet (e gourmand) porque leva dois anos de
avanço. Tinha ele só três anos quando ouviu a avó a pensar em voz alta
"O que é que eu hei-de fazer para o jantar? Mas o que é que eu hei-de
fazer para o jantar?" Ao que ele respondeu: "Hmmm...pode ser arroz de
pato, Maria Odete".

Ambos adoram peixe. O Pedro está numa fase de loucura por ovas. A Inês
recusa-se a escolher entre os vários atributos do peixe. Seja qual for
o peixe, pergunta se pode comer a pele.

A primeira vez que viu um pargo deslumbrou-se e perguntou, optimista,
se se podia comer tudo. Os olhos também? Quando soube que sim,
respirou de alívio. Quanto se trata de peixe detesta tabus.

Já o Pedro tem andado ansioso, não tanto com o Natal, mas com uma
questão superior. Sempre que se senta num restaurante (e às vezes
quando se deita) pergunta: "Já está na altura da lampreia?"

Indica depois onde quer voltar a degustá-la: numa terreola perto de
Tomar onde comeu, em 2014, a lampreia mais magnífica da vida dele.
Vem aí a geração que nos há-de salvar!

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