Infecções pós-cirurgia estão a diminuir em Portugal

Globalmente, entre 2013 e 2017, Portugal melhorou nos resultados quanto ao controlo de infecções e resistência aos antimicrobianos. Mas há uma superbactéria cuja resistência continua a aumentar.

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Paulo Pimenta

A incidência de infecções pós-cirurgia diminuiu significativamente (12,8%) entre 2013 e 2017 numa amostra de unidades hospitalares públicas, privadas e da rede social analisada pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. Em especial nas cesarianas e artroplastias do joelho. De resto, de modo geral, Portugal melhorou os resultados no controlo de infecções hospitalares, nota o relatório do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e Resistências aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde, apresentado nesta segunda-feira, em Lisboa.

A melhoria registou-se ao longo dos cinco anos em análise, mesmo tendo em conta que em 2017 foram feitas mais do dobro das cirurgias do que em 2013, tendo também aumentado o número de instituições que fazem esta vigilância epidemiológica (+42,6%). São actualmente 54 unidades hospitalares.

Nos sete grupos de cirurgias acompanhados pelo Centro Europeu, a incidência de infecções caiu para mais de metade nas cesarianas, artroplastias do joelho (substituição de superfícies articulares por próteses) e laminectomias (remoção de lâminas vertebrais para aliviar a pressão sobre nervos). Também recuou nas artroplastias da anca (-0,25%).

Já as cirurgias de cólon e recto continuam a destacar-se, com poucas oscilações, pela elevada incidência de infecção — 16,23 por 100 pessoas operadas. Em nenhum outro procedimento há uma incidência tão elevada.

Resultados menos bons foram também registados nas colecistectomias (remoção cirúrgica da vesícula biliar), onde a incidência de infecções aumentou quase 15%, afectando 2,11 em cada 100 pessoas operadas. Estes procedimentos vão ser alvo de análise, garante a directora do programa, Maria do Rosário Rodrigues, para que se perceba o que pode ser melhorado.

“Resultantes de múltiplas intervenções há indicações de que Portugal apresenta uma evolução positiva e consistente do controlo das infecções hospitalares associadas aos cuidados de saúde, mas temos que fazer mais e fazer melhor”, afirmou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. Isso passa, entre outras medidas, pelo uso prudente de antibióticos. Em Portugal, o consumo diminuiu no último ano, pela primeira vez desde 2016. Recuaram não só as compras nas farmácias como as administrações nos hospitais, para valores próximos aos de 2014.

Quando se fala do consumo de antibióticos de longo espectro, considerados de fim de linha, são boas notícias as diminuições no consumo de carbapenemos e fluoroquinolonas. Já o uso de cefalosporinas aumentou tanto em ambulatório como nos hospitais.

Portugal também está melhor quanto à resistência das bactérias aos antimicrobianos, frisou Maria do Rosário Rodrigues. Um dos exemplos positivos é o da bactéria MRSA, responsável por infecções da corrente sanguínea, da pele e tecidos moles ou pneumonias. “É uma das bactérias que são resistentes a grande parte de alguns antibióticos e ficamos com algumas restrições em termos de tratamento. A política de apoio de prescrição aos antibióticos, a insistência na higiene das mãos e das precauções básicas e a norma que saiu de rastreio e controlo da MRSA foram factores muito benéficos nesta descida”, explicou Maria do Rosário Rodrigues.

Menos positivos são os dados relacionados com a bactéria Klebsiella pneumoniae, “que está em crescimento em Portugal e noutros países da Europa”. “Pode provocar variados tipos de infecções graves com dificuldade de tratamento, porque o que temos disponível é um grupo de antibióticos muito restrito”, disse a responsável, salientando que pelo facto de ser resistente a vários antibióticos, propaga-se com facilidade provocando surtos.

O aumento da infecção por esta bactéria, explicou ainda, deve-se “ao uso elevado de antibióticos, à livre circulação de pessoas que podem ser transportadoras dessas bactérias e também pode haver alguma quebra das medidas básicas de controlo da infecção”. Questionada sobre se essa falha está relacionada com a carência de profissionais nos hospitais, Maria do Rosário refere que são precisos recursos, quer nas equipas de controlo das infecções quer nos serviços hospitalares em geral.

No ano passado, o programa realizou um inquérito de prevalência de pontos de infecções nas unidades de cuidados continuados. O inquérito realizou-se entre Setembro e Novembro e abrangeu 268 unidades.

“Registaram 4% infecções associadas a cuidados de saúde de uma amostra de 6563 doentes. Uma melhoria em relação ao inquérito de 2013, quando as infecções associadas a cuidados de saúde eram cerca de 10%. A infecção do trato urinário era a mais comum”, disse Maria do Rosário Rodrigues. O relatório indica ainda que “à data do estudo encontravam-se 612 residentes (9,33%) diagnosticados com uma infecção ou a tomar um antimicrobiano nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados participantes”.

Questionada sobre se está a ser feita alguma norma direccionada aos lares de idosos, explicou que estão “a fazer uma vigilância epidemiológica para as unidades de cuidados continuados integrados, com protocolos, definições e registos” para terem um conhecimento mais aprofundado do tipo de doentes que estão nestas unidades e infecções que possam ter tido.

Está igualmente a ser discutida a transformação de uma recomendação a norma, “que contemplará também os lares”, onde estarão as indicações sobre os procedimentos a adoptar nas transferências de doentes para outras unidades de saúde, para outras instituições e para o domicílio e que informação se deve dar aos familiares sobre cuidados a ter. 

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