Contos inéditos de Naguib Mahfouz descobertos nos papéis do Nobel da Literatura

Uma caixa que se encontrava em casa de uma filha do escritor egípcio continha 50 contos manuscritos, 18 dos quais inéditos.

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O escritor egípcio Naguib Mahfouz

Meia centena de contos manuscritos do ficcionista egípcio Naguib Mahfouz (1911-2006), 18 dos quais nunca antes publicados, foram encontrados numa caixa que a filha do escritor, Umm Kulthum, conservava em casa e emprestou a um jornalista que está a escrever uma biografia do seu pai. 

“Senti que estava diante de um tesouro”, contou o jornalista Mohamed Shoair, evocando o momento em que abriu a caixa. Se a maior parte dos manuscritos diz respeito a histórias que Mahfouz publicou ainda em vida, 18 são absolutamente inéditos.

Com “cenários fabulosos” localizados no Cairo e “personagens recorrentes”, na descrição de um responsável da editora Saqi Books, os contos deverão ter uma primeira publicação em árabe já no próximo dia 11 de Dezembro, assinalando os 107 anos do nascimento do escritor, e está já previsto o lançamento de uma edição em língua inglesa, com tradução do arabista americano Roger Allen, no Outono de 2019.

Naguib Mahfouz, que recebeu o Nobel da Literatura em 1988, escreveu 34 romances e mais de 350 contos. “Esta preciosa descoberta é uma notícia maravilhosa para os admiradores de um dos mais amados romancistas do mundo”, disse o editor egípcio ao jornal inglês The Guardian.

Na caixa onde agora foi encontrado, este conjunto de manuscritos vinha acompanhado de uma nota: “para publicação 1994”. Um ano particularmente difícil para o então já octogenário Mahfouz, que vinha enfrentando a hostilidade dos extremistas islâmicos egípcios desde 1989, quando condenara a fatwa contra Salman Rushdie. E ele próprio escrevera em 1959 um livro considerado blasfemo e ainda hoje banido em muitos países, Os Filhos do Nosso Bairro (edição portuguesa da Civilização).

Após ter recebido várias ameaças de morte, começou a usufruir de protecção policial, o que não impediu que um integrista islâmico o esfaqueasse no pescoço quando o escritor saía da sua casa no Cairo. Mahfouz sobreviveu, mas esteve várias semanas hospitalizado e sofreu danos permanentes no braço direito. Começou então a ditar a maior parte das suas histórias, já que lhe custava escrever à mão, pelo que parece provável que a generalidade destes manuscritos seja anterior a Outubro de 1994, quando ocorreu o atentado.

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