É irresistível admitir: David Fonseca é o maior

Já quase o dissemos aqui, mas este Resist do último álbum Radio Gimini, que alguém fez chegar a VIDEOCLIPE.PT, levou-nos a perguntar se, para fazer a curadoria desta semana, iríamos resistir a admiti-lo categoricamente: David Fonseca é o maior!

Celebrar 20 anos de carreira, editando originais com regularidade (entre outros projetos pontuais) e mantendo sempre um mesmo patamar na produção de hits, já é digno de louvor. Mas para além das suas inegáveis qualidades no registo musical, acresce o facto relevante de possuir também enormes qualidades no registo audiovisual. Em concreto, na constante criação desse instrumento imprescindível para a música se fazer presente nestes tempos digitais.

Para algumas pessoas este seu Resist (com a participação da espanhola Alice Wonder) será apenas mais um convencional videoclipe de tipo performativo (de performance musical e não necessariamente coreografada), embora talvez nunca se tenham perguntado como se avalia tal coisa. Apenas pelo “gosto-não gosto”? Pelo “é giro”, ou pelo “mas já vi coisas melhores”? Haverá realmente forma de discernir nestas coisas o mau, o medíocre, o mediano, o bom e o excelente?

Fazer curadoria desta área artística passa também por elucidar um princípio de avaliação, que começa sempre na questão da forma (a criatividade técnica), mas cresce se existir substância (possibilidades de interpretação de uma mensagem), e depois a estruturação destas com a música. Ora, das duas primeiras questões, convenhamos que um dos seus anteriores aqui destacado apresenta patamares mais elevados. No entanto, o nosso encómio advém da consistência com que nestes 20 anos ele continua a conseguir tornar apelativo o estilo de videoclipe mais desafiador para a criatividade. Ou seja, contornar o facto importante na pop do “elemento” interpretativo (ou vocalizador), uma vez que este impede conceber um vídeo totalmente concetual ou narrativo – padrão de um objeto fílmico. E apelativo, neste caso, concretiza-se nisto: encontrar um cenário carismático, criar nele uma encenação cativante em alguns planos contínuos, ter adereços curiosos ou risíveis (cartas, guitarras, macacão, leque, etc), ter estilo, ter classe a dançar sem ser nada exímio, e acima de tudo, conceber diferentes andamentos em função da música para não cair na repetição. Pode considerar-se pouco, mas com os orçamentos que se praticam em Portugal não existem assim tantos como este.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.