Enfermeiro alemão que matou mais de 100 doentes admite crimes

Niels Högel administrou aos seus pacientes doses letais de medicamentos para o coração, de forma a tentar "ressuscitá-los" e impressionar os seus colegas.

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Niels Hoegel, esta terça-feira, em tribunal, voltou a tapar a cara Reuters

Niels Högel, o enfermeiro alemão acusado de matar mais de 100 doentes num período de cinco anos, admitiu a culpa esta terça-feira, no primeiro dia do seu julgamento.

Segundo a acusação, Högel administrou doses fatais de medicamentos para o coração nos pacientes ao seu cuidado, de forma a tentar “ressuscitá-los” e impressionar os seus colegas, bem como por “simples aborrecimento”.

Os crimes aconteceram entre Fevereiro de 2000 e Junho de 2005, no hospital de Oldenburg e numa clínica em  Delmenhorst, no norte da Alemanha. De acordo com dados recolhidos pelo Ministério Público, Högel terá matado pelo menos 36 pacientes em Oldenburg, onde trabalhou até 2002, e 64 em Delmenhorst, com idades compreendidas entre os 34 e os 96 anos.

O ex-enfermeiro de 41 anos, que tapou a cara com uma pasta enquanto os jornalistas permaneceram no tribunal, confessou ser o autor de todos os crimes, segundo os meios de comunicação no local.

O julgamento, que começou com um minuto de silêncio pelas vítimas, deverá decorrer até Maio de 2019.

O neto de uma das mais de 100 vítimas, Christian Marbach, disse à agência de notícias AFP que é um “escândalo” o facto de Högel ter conseguido matar com impunidade durante tantos anos sem a intervenção das autoridades.

“[As autoridades] tinham tudo o que precisavam para o parar – não é preciso ser o Sherlock Holmes”, disse. Ao jornal alemão Die Welt, Marbach confessou que “o objectivo é que Högel fique preso durante o maior tempo possível”.

“Estou à procura de respostas, e de justiça”, afirmou Frank Brinkers, filho de uma das vítimas, à AFP.

O caso veio à tona quando Högel foi apanhado em flagrante a injectar uma medicação não-prescrita a um paciente em 2005, na clínica de Delmenhorst. O ex-enfermeiro foi então condenado a sete anos e meio de prisão por tentativa de homicídio, em 2008.

“Saciado” quando “ressuscitava”

Num segundo julgamento entre 2014 e 2015, motivado pela pressão das famílias das vítimas que pediam justiça, Högel foi condenado a prisão perpétua, considerado culpado dos crimes de homicídio e tentativa de homicídio de cinco outras vítimas, e impedido de voltar a exercer a sua profissão.

Foi nesta altura que Högel confessou ao seu psiquiatra que cometeu pelo menos mais 30 crimes em Delmenhorst, o que levou a que as autoridades investigassem as circunstâncias das mortes “suspeitas” também em Oldenburg.

Matar nunca foi o objectivo principal, refere um psicólogo que avaliou as capacidades mentais do ex-enfermeiro. Segundo este, Högel sentia-se “saciado” quando conseguia “ressuscitar” um paciente, mas o efeito durava apenas uns dias: “Era como uma droga para ele”, disse o psicólogo, citado pela AFP.

De acordo com a revista alemã Der Spiegel, 137 corpos de pacientes que morreram ao cuidado do ex-enfermeiro foram exumados, incluindo na Polónia e na Turquia, no maior caso de assassínios em série na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. Contudo, as autoridades dizem que o número total de mortes pode rondar os 200 ou 300 – algo que nunca será confirmado, já que muitas das potenciais vítimas foram cremadas.

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